As Crônicas Marcianas


As Crônicas Marcianas


No início de junho foi divulgada a notícia da morte do escritor
Ray Bradbury. Já faz um mês isso. Esse evento me motivou a tirar da prateleira o livro "As Crônicas Marcianas", que eu havia comprado há cerca de um ano, e lê-lo.
O livro é montado como uma coleção de crônicas, ou contos, narrando os avanços da humanidade na colonização de Marte, o que condiz com o título. Supostamente esse desenvolvimento das viagens interplanetárias entre a Terra e Marte se dá entre os anos 1995 e 2026. Sem ter um protagonista, essas crônicas tem em comum a interação da humanidade com o planeta Marte.
Segundo o que informa
a Wikipédia sobre Bradbury, ele foi influenciado por diversos autores de literatura fantástica em seus anos de formação, e certamente essa literatura influenciou a caracterização que ele faz de Marte, e dos nativos daquele planeta que a imaginação de Bradbury coloca lá. Ajuda o fato que na década de 1950, quando o livro foi escrito, a humanidade sabia muito menos sobre o planeta vizinho da Terra do que sabe hoje, e de fato, o imaginário sobre aquele planeta era formado mais pela literatura fantástica que pela ciência.
Em todo caso, "As Crônicas Marcianas" são sobre a humanidade, não pode restar dúvida. E mesmo os habitantes de Marte são uma outra versão da humanidade. Talvez a primeira crônica, sobre uma família marciana e a primeira expedição terráquea à Marte, seja mais uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade burguesa que sobre as vaigens espaciais entre a Terra e Marte.
Há uma crônica sobre a migração de negros dos Estados Unidos para Marte. Esta crônica não é sobre colonização de um planeta vizinho, é sobre o estado dos negros nos Estados Unidos na década de 1950.
Das preocupações de Ray Bradbury não escapam mesmo a então nascente ameaça do apocalipse nuclear, e aqui Bradbury não se contamina com alguma paranoia antissoviética. O perigo é sempre o que podemos fazer ao nosso próximo.
A edição que li é uma que foi publicada pelo antigo Círculo do Livro, em meados dos anos 1980. Eu cheguei a ser sócio do Círculo do Livro, mas durante meu tempo de sócio não adquiri este livro, que, como já disse, adquiri num sebo, no ano passado.
A curiosidade é que a publicação nos anos 1980 precede a imaginária data da primeira crônica, da primeira viagem à Marte, de 1995. Hoje, no ano 2012, sabemos que a imaginação de Bradbury acabou se tornando maior que a tecnologia e o senso de aventura do ser humano, e estamos próximos de se completarem 40 anos desde que os Estados Unidos colocaram o último homem no solo da Lua (
ocorrido em 11 de dezembro de 1972, segundo a Wikipédia). Desde então a exploração espacial, de fato, regrediu, com os seres humanos que são lançados ao espaço não indo muito além das camadas mais altas da atmosfera terrestre, mesmo que satélites artificiais não tripulados já tenham saído do Sistema Solar. Os seres humanos continuam presos à Terra.


02/07/2012.

Comentários

  1. Se realmente a idéia do autor é escrever em código sobre a realidade da época simulando que seria em Marte, parece aquelas letras de música do tempo da ditadura.

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