Diário - Leituras - A correspondência de Julio Cortázar na revista Piauí de julho




A revista Piauí é uma revista bem interessante com suas reportagens longas. Algumas delas podem ser consideradas atemporais, e poderiam, na verdade podem, ser lidas bastante tempo após a data da publicação sem perder o viço, sem parecerem muito datadas.

Nesta edição de julho, a propaganda da revista comentava sobre o perfil traçado, do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e um outro perfil sobre o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira. Não lembro se a propaganda falava da correspondência do escritor argentino Julio Cortázar.

Acabei de lei o que me interessava na revista hoje. O perfil de Gilberto Kassab me pareceu aquém do anunciado, como "o político que não parece político". A revista traça um perfil, mas me pareceu menos do que poderia ser dito.

Em compensação, o perfil de Ricardo Teixeira foi muito bom. Neste caso, a reportagem de Daniela Pinheiro mostra um pouco do dia a dia do presidente da CBF, comenta as acusações das quais ele é alvo, dá voz ao perfilado para que ele se defenda, enfim, mostra bastante do homem, e deixa ao leitor fazer seus juízos ao final. Bastante descrição, poucos adjetivos, ou, pelo menos, foi a minha impressão.

Agora, o que mais me agradou na revista foi a apresentação de parte da correspondência do escritor Julio Cortázar com seu amigo, o artista argentino Eduardo Jonquiéres. Segundo a apresentação de Davi Arrigucci Jr., os dois se corresponderam de 1950 a 1983, um bocado de tempo. Nos excertos apresentados por Arrigucci, Cortázar escreve de diversos lugares, de Paris, da Itália, de uma embarcação a caminho de Dacar, no Senegal, e há ainda o texto de um postal enviado por Cortázar, do Brasil. Na última correspondência apresentada, em 1983, o escritor argentino escreve de Manágua, capital da Nicarágua, que então ainda vivia a juventude de sua revolução (acontecida em 1979).

As correspondências apresentadas traçam o perfil humano do que parece ser um grande escritor. Ele havia decidido se radicar em Paris no início da década de 1950, e de lá escreve suas impressões, não como turista, mas como habitante da cidade-luz. Comenta de dias que passou na Itália, especialmente em Roma. Na Itália um aperto financeiro obrigou a ele e à esposa a tentarem "racionar" as poucas liras que possuíam, enquanto aguardavam remessa de dinheiro da Argentina. Eram tempos mais difíceis aqueles. As cartas (e as remessas postais) demoravam para chegar, e ligações telefônicas internacionais tinham preços proibitivos. Em uma das correspondências, Cortázar comenta de estar ficando velho, e fala das limitações que dizia enfrentar com seu corpo; ele estava fazendo 41 anos de idade. Em outra determinada correspondência ele tenta aplacar, ou aliviar, a crise da meia-idade que o amigo havia descrito em carta enviada.

Enfim, a correspondência de um ser humano muito interessante. Tomara que eu tenha tempo de ler seu livro mais conhecido, "O Jogo da Amarelinha".




12/08/2011.

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