Fly me to the Moon


Não foi bem um piquenique. Aliás, não foi nada um piquenique.

A começar pelo treinamento. Ser submetido a forças centrífugas, ficar pendurado e rodando ao redor de um eixo, usar equipamento pesado dentro de uma piscina. Sempre sob o escrutínio do pessoal encarregado do tal treinamento.

E a turma era irônica. Gostavam de tocar Rocket Man e Space Oditty nos momentos de folga. Adoro a canção do Bowie, mas certamente ela não era bom augúrio. 

Nada era confortável. O espaço era apertado, a comida não era saborosa – de fato nem tenho certeza se dá para chamar de comida –, tivemos que usar fraldas e sondas urinárias. 

O elevador até a cápsula parecia que não ia parar de subir. 

Era dezembro, mas a temperatura até era amena na Flórida. 

O baque da partida foi mais forte que qualquer turbulência que eu já tinha enfrentado. 

A viagem foi relativamente equilibrada, uns quatro dias para ir, quase quatro dias por lá, no satélite, e outros quatro dias para voltar. Coletamos um monte de rochas, fincamos uma bandeira, andamos de jipe, embora o pessoal da burocracia chamassem o veículo de “rover”. Mas, como eu disse, não foi assim um piquenique. 

Na volta compartilhamos novamente o espaço apertado. 

Deu tudo certo. Fomos resgatados nas águas do Golfo. Voltamos a tempo do Natal. 

Agora que podemos estar juntos, baby, é tempo de você me levar para a Lua, de brincar entre as estrelas, de conferir como é a primavera em Júpiter e Marte. Beije-me, baby!


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Imagem gerada por IA OpenArt

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Texto produzido para a Oficina Literária Santa Sede Masterclass 2024 – Bilhetes de Viagem – homenagem à Cecília Meireles. Este texto não entrou no livro que foi publicado pela Oficina. 


29, 30/07/2024, 07/08/2024, 11/11/2024.

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