País do Atlântico, não pacífico
Caro Emanuel
Estava eu almoçando em um restaurante na esquina da Rua da Junqueira com a Calçada da Ajuda, a poucos metros de distância da margem norte do Tejo, quando passou pela calçada, caminhando, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Estava acompanhado apenas de uma oficial militar. Imagino que essa militar deveria ser uma ajudante de ordens, e possivelmente também atuasse como guarda-costas. Acho que o palácio presidencial fica na região.
Fiquei espantado, e pensei em ir atrás para pedir que pudesse tirar uma foto com ele. Como eu ainda não tinha terminado de comer, e sem ser essa pessoa extrovertida, desisti.
É fato que o presidente da república de Portugal manda muito menos que o presidente do Brasil. Em Portugal, o chefe de governo é o primeiro-ministro. Mas que diferença para o Brasil onde até governadores e prefeitos de capitais vivem cercados por um séquito de assessores e seguranças.
O fato do presidente da república andar a pé, acompanhado apenas por uma ajudante de ordens, indica um país bastante tranquilo. Pacífico.
Essa região de Lisboa é bastante turística. Como já disse, por aqui fica o Tejo. E, a partir de onde almocei, pela margem norte de Tejo, indo para oeste, encontramos o Monumento aos Descobridores e a Torre de Belém.
Antes desses monumentos há uma praça chamada Jardim Afonso de Albuquerque. Nessa praça há uma coluna dedicada a esse mesmo senhor. Ele foi um nobre que viveu no século XVI. Consolidou o império marítimo português em sua época, estabelecendo fortificações na península Arábica, iniciando a colonização da região de Goa, na Índia, e também estabeleceu um entreposto português na península de Málaca. A ferro e fogo, claro.
Ao lado da Torre de Belém, está o Museu Militar. Na parede externa desse museu estão gravados os nomes dos militares mortos ou desaparecidos em combate. Defendendo o império colonial, claro. O primeiro nome é de um militar morto em Goa, em 1954.
A ponte 25 de Abril que liga Lisboa a Almada, sobre o Tejo já se chamou ponte Salazar. O ditador português entre 1933 e 1968. Do regime que perseguiu opositores, com prisões, exílios e mortes. O estado novo acabou justamente em 25 de abril de 1974. Têm sido cinquenta anos de liberdade e paz.
É, meu caro. Os dias atuais em Portugal são pacíficos. O passado, vemos, foi violento. Bem violento.
P.S. Texto produzido para a Oficina Literária Santa Sede Masterclass 2024 - Bilhetes de Viagem - homenagem à Cecília Meireles. Este texto não entrou no livro que foi publicado pela Oficina.
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Monumento a Afonso de Albuquerque em Lisboa
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03, 04, 22/06/2024.
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