Diário – leituras – A vegetariana


Com a premiação do Nobel de literatura à escritora sul-coreana Han Kang, e após uma conversa, uma amiga me emprestou esse livro.

A vegetariana trata de uma mulher jovem adulta que resolve parar de comer carne após uma série de sonhos, ou, talvez, pesadelos. Ela não apenas para de consumir alimentos de origem animal, como também esvazia sua casa desse tipo de comida. O que gera sérios desentendimentos com seu marido. No decorrer do livro veremos que sua decisão de não mais consumir carne, ovos, leite e mel, nem artigos de couro, trará consequências drásticas sobre sua família materna, além de seu marido. 

Uma curiosidade sobre essa vegetariana é que a história não é contada por ela mesma, mas por pessoas próximas. Os únicos flashes do pensamento da personagem é quando somos induzidos a pensar que ela exprime o que viu em seus pesadelos. Eu, pelo menos, me senti induzido a isso. Que eu me lembre, o livro não usa a palavra pesadelo, nessa tradução ao português brasileiro. Talvez seja uma palavra de mau augúrio na Coreia do Sul. A personagem fala em sonhos. Mas as descrições são de histórias de horror, talvez um reflexo da maneira como fingimos ignorar o sofrimento que pode ser imposto aos animais para que venhamos a comer nossos bifes suculentos. 

O livro explora várias questões da sociedade sul-coreana, que podem ser ampliadas para o mundo todo. Começa pela ética no trato com os bichos. Passa pela sanidade mental: quem é são? Quem é doente? Questiona se a família nuclear é de fato um lugar saudável e de acolhimento. A autora também toca no assunto recente, ou recente para mim, da “sociedade do cansaço” na figura da irmã da protagonista, no capitalismo tardio que fez da Coreia do Sul um país relativamente rico nos últimos quarenta anos. 

Por fim, achei interessante que certos momentos da história se passem no bairro de Gangnam, em Seul. Lembrei do rapper Psy e sua Gangnam Style, música que se tornou febre há pouco mais de dez anos. 

Livro interessante e curto – menos de 150 páginas –, que se lê rapidamente, e que nos deixa pensando.


KANG, Han. A Vegetariana. São Paulo: Todavia, 2018. Tradução de Jae Hyung Woo. 


09, 15/11/2024.

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