Perplexidade na primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023

Em uma noite da primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023, um homem acha que precisa escrever. 

Contudo, ele não sabe o que escrever. 

Ou até sabe, mas não acha que tenha algo a dizer. 

Poderia comentar que a primavera chuvosa de Porto Alegre evoca um ar de inverno ou de outono. Comentar que tanta chuva dificulta caminhar para admirar as flores. 

Mas o homem está paralisado pela tristeza que vem do noticiário. 

Triste pelas centenas de mortes em atentados terroristas. Triste pelas outras centenas de mortes em bombardeios de retaliação. 

Triste porque milhares de vozes nas redes telemáticas só se solidarizam com as mortes de um lado dos que guerreiam. 

Triste porque não parece haver solução para esse conflito. 

Solução teórica há. Solução prática não. 

Triste porque essa mais recente guerra, domina as manchetes. E outras guerras continuam ao redor do planeta. 

A guerra esquecida no sul da Arábia, com crianças morrendo de fome. A guerra no sul da Arábia dura mais de oito anos.

A guerra civil da nação ao sul do Egito. Esta guerra dura meses. 

A guerra civil de outra nação ainda mais ao sul do Egito. Esta guerra dura mais de ano. 

Até a guerra no leste da Europa pareceu perder importância diante do conflito que ocupa as manchetes. Esta guerra vai para o seu terceiro ano, se os combates continuarem na próxima primavera boreal. 

Aflige esse homem que pessoas percam suas vidas, sofram ferimentos e traumas psicológicos, e não há o que dizer para minorar isso tudo. 

Ele ouve música. Uma música talvez triste. No streaming, Gilberto Gil canta A Paz.

Em uma noite da primavera chuvosa de Porto Alegre em 2023, um homem não sabe o que escrever.

16, 17/10/2023.