Cara Maria – VI



Cara Maria,


Como falei contigo, quando tivemos oportunidade de nos encontrar por conta do teu mais recente lançamento, estive viajando semana passada. Como te disse até encontrei o Eduardo no aeroporto. Ele partia para Brasília, enquanto eu retornava. 

Por conta da viagem acabei por não publicar nada no blogue na semana passada, a não ser um aviso que não haveria publicação. O que me parece francamente contraditório isso de publicar um aviso que não haverá publicação. 

Ainda sobre o lançamento, sim gostei, e teu conto me trouxe algum desconforto. Digo aqui o que eu devo ter dito no lançamento: parabéns! Ou eu não disse? Bom se não disse, acabo de dizer. Se já tinha dito, acabo de repetir. Pois então… Parabéns! 

Sabes? Eu bem gostaria que os contos atuais fossem mais longos. Sei que há recomendações para que esses contos sejam baseados em apenas uma cena, e essa cena precisa ser impactante o suficiente para nocautear o leitor (nocautear repetindo a célebre metáfora de São Cortázar). Mas justamente, pensando em Cortázar, seu clássico conto O Perseguidor é tão longo, que algumas pessoas o classificam de novela. Também longo é O Sul, do Borges, embora bem mais curto que o texto do Cortázar. Para não falares que só cito argentinos, também mais longo que os contos recentes é o Negro Bonifácio, do Simões Lopes Neto (a propósito, quantas fotos tiraste sentada ao lado do Lopes Neto, em Pelotas?). Divago por conta de uma predileção pessoal. 

Tendo lido teu conto, só faltam os outros catorze que compõem o livro. Haja vida para tantas leituras. 

Escrevo na noite de primeiro de outubro. 

E assim se foi um setembro extremamente úmido.

As chuvas fecharam setembro fechando o cais do porto de Porto Alegre. O Guaíba, talvez Lago Rio Guaíba, como uma vez disse o Werner Schünemann, extrapolou as margens que lhe tinham sido estabelecidas e transbordou. As comportas do muro da Mauá foram fechadas. Sem isso talvez estivéssemos em uma situação semelhante à da enchente de 1967, com o centro da cidade levemente alagado, segundo algumas fotos da época. 

Talvez o planeta, aliás poderíamos chamar de a planeta, concordando com “a” natureza, talvez esteja mesmo nos punindo pela destruição e poluição que nós, humanos (humanes? Humanxs?) causamos. 

Setembro de 2023 terá em seu registro uma das mais catastróficas cheias do Rio Taquari e um transbordamento do Lago Rio Guaíba. 

Estamos nesta semana de início de primavera com dias e noites relativamente frios, depois de um final de inverno com dias quentes.

Talvez a planeta esteja mesmo nos punindo pela destruição e poluição que nós, humanes causamos (gostei de usar humanes). 

Mudando um pouco de assunto, registro mais alguns que partiram por esses dias. 

Dia 18 de setembro partiu Marinho Peres. Uma referência na minha infância colorada. Zagueiro ao lado de Figueroa, fez parte do time do Internacional que foi bicampeão brasileiro de futebol em 1976. Também jogou a Copa do Mundo de 1974. Estava com 76 anos. 

Dia 28 de setembro perdemos Michael Gambon. A grande referência neste caso é que ele foi a segunda encarnação de Alvo Dumbledore, nas adaptações cinematográficas da série de livros de Harry Potter. Os livros de Harry Potter me deram o prazer de compartilhar leitura deles com meu filho. Lemos aqueles livros praticamente ao mesmo tempo entre o final do século passado e o início deste. Depois vimos todos os filmes no cinema. Falo da segunda encarnação porque o ator Richard Harris atuou nos primeiros dois filmes da série e faleceu antes do terceiro (são oito filmes, derivados de sete livros). Gambon estava com 82 anos. E assim, os atores se tornam estrelas. Há pouco menos de um ano havíamos perdido Robbie Coltrane, outro ator da série de filmes de Harry Potter. 

Vidas que passam. A nossa também passará. 

Foi bom ter estado contigo e teus amigos no teu lançamento. 


.



.

01, 03/10/2023. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Jussara Fösch partiu em 16 de abril de 2024

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos