Cara Maria – VII


Cara Maria,


Foi, ou tem sido, uma semana de ódio. 

Começo por mim. Ódio de secadores lançando fogos de artifício diante da eliminação do S.C. Internacional diante do Fluminense, na Copa Libertadores da América 2023. Digamos que piadinhas sejam okay. As tais corneteadas. Mas foguetes? 

Embriagado, tive desejos de morte e aniquilação, destruição em massa. Felizmente a tagarelice ficou restrita a aplicativos de mensagens, sem grande amplitude. Talvez se eu fosse civilizado como um inglês…

Ódio é algo que se aprende. Me lembro que quando eu era criança e o Inter venceu o Campeonato Brasileiro de Futebol pela primeira vez, lá por 1975, na Vila Cefer 2, mesmo alguns amiguinhos gremistas comemoraram. Infelizmente perdi o contato com todo mundo. Inclusive o meu amigo que era o paradigma de gremista entre nós morreu em um acidente de moto há vários anos. Assim, as memórias que registro aqui não podem ser validadas por mais ninguém. Mas me lembro assim.

Ainda por conta dessas memórias, fui encontrar secadores fanáticos entre colegas de trabalho. Acho que não à toa, uma pessoa que sempre me lembro de ser um fanático anedótico tinha o apelido de Nojento. Ele também já faleceu. Isso significava que as piadas me pareciam mais odiosas que divertidas. Nessa minha reconstrução memorialística foi ali que comecei a aprender a odiar adversários. Mas pode ser que eu esteja inventando. 

O tempo passou, e meu filho tendo crescido em fase vitoriosa do Grêmio F.B.P.A. se tornou gremista. Meu ódio no futebol diminuiu. Já fui com ele a jogos do Grêmio, ele já me acompanhou a jogos do Inter. 

Como diz o Kotscho, vida que segue. 

O ódio só aflora em situações especiais como quarta-feira passada, 4 de outubro. 

Mudando um pouco de assunto, mas não tanto, os estimuladores de ódio estão fazendo sucesso na questão israelo-palestina. 

Vimos imagens de pessoas executadas pelas milícias da Faixa de Gaza. Vimos um ministro israelense chamando palestinos de animais. A vingança israelense deve vir forte. Em conflitos anteriores recentes, a proporção de mortos era de dez palestinos mortos para cada israelense. Ou talvez minha cabeça esteja editando números. Bem a exatidão cabe aos especialistas. 

Eu acho que ninguém devia morrer. Não assim, assassinado por alguém gritando que Deus é Grande, com ódio. Não assim, explodido por mísseis lançados por aviões ou tiros de artilharia sem ter para onde fugir. 

Seria bom que não houvesse morte. Mas já que a morte é inevitável, que pelos menos todos pudéssemos morrer de causas naturais. Tranquilos, serenos. 

O ódio e a vingança alimentada pelo ressentimento ainda vão gerar muitos mortos, cegos e banguelas por lá. 


09, 10/10/2023. 

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