Diário - Leituras - Morri para Viver



Acabei por ler o livro "Morri para Viver", de Andressa Urach, com a ajuda do jornalista Douglas Tavolaro. Foi uma leitura rápida. 

A obra se coloca entre um livro de memórias, um livro de fofocas e um livro de testemunho.

Entre os crentes evangélicos há um tipo de livro clássico, o chamado "testemunho", que no limite se origina na palavra grega "martureo", usada no Novo Testamento. O apóstolo Paulo, vivia fazendo isso, declarando como fora educado para ser um mestre judeu, se tornou um perseguidor de cristãos, e, por fim, encontrou Jesus e virou cristão. 

Nesse tipo de livro, alguém que teve uma vida que poderia ser considerada "carregada de pecados", como um ladrão ou um traficante de drogas, relata o processo que o levou a encontrar Jesus e mudar de vida. Existe uma variante desse tipo de literatura que é a da pessoa que é proveniente de uma família cristã, não teve uma vida problemática, mas informa como esteve "em missão", seja em uma tribo exótica que não conhecia o cristianismo, ou auxiliando comunidades carentes, ou pregando em lugares em que a criminalidade é alta.

O livro de Urach e Tavolaro deveria se encaixar no primeiro caso. Narra uma infância sofrida, onde houve inclusive abusos por parte de um familiar, um casamento que acabou se frustrando, sua iniciação e práticas no mundo da prostituição, até se tornar uma espécie de celebridade, passando pelo que ela chama de "vício em cirurgias plásticas". E fala de como uma séria crise de saúde a levou a se tornar uma membra da Igreja Universal, aquela presidida pelo bispo Edir Macedo. 

A obra procura não se comprometer. O local onde ela começou a se prostituir não é nomeado. Os clientes não são nomeados com uma única exceção. 

Literariamente a narrativa é cheia de adjetivos, o que pode cansar, mas faz parte da lógica do texto, de querer apelar à emoção do leitor. 

No início, o leitor também se depara com vários parênteses (parênteses esses não claramente sinalizados, mas dados pelo ritmo do texto) para a colocação de testemunhos sobre Andressa Urach, dados por familiares, médicos e enfermeiros que cuidaram dela enquanto esteve internada no Hospital Conceição em Porto Alegre.

Na sua nova vida, Andressa pede perdão a muita gente, declara gratidão a Deus, fala em Deus, e fala nos ministros e membros da Igreja Universal. Talvez tenha sido falta de atenção minha, mas ela falou pouco em Jesus, central na maioria dos livros de testemunhos cristãos evangélicos. Sinal de alívio doutrinário?

O livro vendeu bastante, mas não creio que tenha satisfeito boa parte do público a que se poderia se destinar, segundo imagino. Isto é, os curiosos pela vida de celebridades devem ter ficado frustrados pelas informações genéricas e quase impessoais sobre a vida de Urach. Os evangélicos em geral podem ter achado que os autores falam pouco em Jesus. Já clero e demais membros da Igreja Universal devem ter ficado satisfeitos. 

Lançado em 2015, o livro ainda se tornou oportunidade para Andressa Urach participar de vários programas de TV e rádio para a divulgação.


10/11/2017.

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