Diário - filmes - As Sessões

Diário - filmes - As Sessões


"Sexo vende" é uma das frases que uma das personagens do filme "As Sessões" ("The Sessions", mas originalmente "The Surrogate", Direção de Ben Levin, Estados Unidos, 2012). Não só vende, mas é um assunto polêmico porque mexe com a intimidade e a sensibilidade humana. Ou talvez venda exatamente por isso.
"As Sessões" é um filme no qual um jornalista e escritor, Mark O'Brien, vivido pelo ator John Hawkes, seriamente debilitado pelas sequelas de poliomielite adquirida na infância, decide que deveria adquirir experiência sexual. O filme é baseado em fatos reais, realmente houve um jornalista e escritor Mark O'Brien que viveu a experiência e resolveu escrever um artigo sobre ela, que acabou publicado, e que acabou servindo de base para o roteiro do filme.
São as peculiaridades de O'Brien que acabam por criar a possibilidade de uma história interessante. Ele era uma criança normal até os seis anos quando contraiu a poliemielite. Seus pais eram formados em forte tradição católica, e dedicaram boa parte da vida a cuidar do filho, o que de certa forma foi um sucesso. Mark O'Brien conseguiu chegar à faculdade e se formar, tendo que estar deitado quase o tempo todo, e boa parte do dia ligado a um pulmão de aço (uma máquina que lhe permitia respirar, apesar da debilidade muscular causada pela poliomielite). A educação católica se mostra bastante no filme, tanto na repressão sexual da personagem, quanto no seu relacionamento com Deus e com o sacerdote católico com quem ele se confessa e se aconselha.
A propósito, achei que esta foi uma das fraquezas do filme: não me convenci com o ator William H. Macy como um padre liberal.
Mas esse é o motivo do filme. Quando Mark O'Brien é designado para escrever uma reportagem sobre a vida sexual de pessoas com deficiências físicas ele acaba por se questionar sobre a sua própria falta de vida sexual. Como ele já era uma pessoa que se consultava com uma terapeuta, ele acabou por ver o que poderia ser feito. E foi assim que ele chegou a uma "sexual surrogate", que o ajudou a lidar com essa questão. E o filme é sobre isso. Esta "sexual surrogate”, Cheryl Cohen-Greene é vivida pela atriz Helen Hunt no filme; ela acabou sendo indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel.
"Sexual surrogate" é uma palavra que não tem um equivalente em português, pelo menos que eu saiba. E é uma espécie de terapeuta sexual, o verbete equivalente da definição para o francês fala em "assistant sexuel", ou seja, "assistente sexual", que pode inclusive manter relações sexuais com seu cliente/paciente, o que não faz dessa terapeuta uma prostituta, pois, como é dito no filme, enquanto o objetivo de uma prostituta é manter contato com o cliente tanto tempo quanto possível, a "sexual surrogate" vai manter contato com o paciente pelo tempo necessário para que ele alcance alguma maturidade sexual, e não pode passar de seis ou oito sessões, dependendo da terapeuta. A propósito, é dessas "sessões" que foi extraído o título final do filme.
E o filme é sobre isso. Sobre um homem adulto, com uma deficiência grave, descobrindo sua sexualidade, que é, afinal, uma certa descoberta de si próprio.
E justamente, por isso, e porque John Hawkes interpreta bem seu papel, que o filme me pareceu tão comovente, tão emocionante. Mostra como certas experiências tão triviais para algumas pessoas podem ser tão impactantes para quem enfrenta limitações físicas.
Um bom filme, que merece ser visto. Claro que isso sempre dependerá do que você pense a respeito de sexo.


22/07/2013.


Comentários

  1. A tradução para o português de surrogate:

    "substituto

    noun:
    1. substituto
    2. sucedâneo
    3. suplente
    4. delegado"

    Um filme bastante dramático, mas curioso! Eu nunca pensei sobre a vida sexual dos deficientes, aliás, nunca penso na vida sexual das pessoas! (rs*) Mereço ser tratada?

    Boa semana!!
    Beijus,

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!