2025: Janice em Paris
Era uma vez um menino. Seu nome era João. O ano era 1973. Ele tinha então seis anos de idade. Ou talvez sete.
Naquele ano, a irmã dele, Maria, que era bem mais velha que ele e sua madrinha, anunciou que iria para o Rio de Janeiro. João quis ir junto. A irmã, então uma mulher jovem, não quis levá-lo. João ficou triste. Acho que a palavra é decepcionado. Ele nunca esqueceu. Cresceu um adulto que foi abandonado pela irmã para uma viagem maravilhosa. Aliás, Maravilhosa ainda é aquela cidade.
Era uma vez uma menina. Seu nome era Janice. O ano era 2025. Ela tinha então dez anos de idade. Ou talvez onze.
Naquele ano, a avó dela, também Maria, teve a oportunidade de viajar a Paris. A vó Maria convidou Janice para ir a Paris. De quebra, a tia de Janice, Regina, também iria nessa viagem.
Passaram-se vários anos desde 1973. João se tornou um adulto. Já bem adulto, quase velho, leu a epopeia de Erico Verissimo O Tempo e o Vento. Se impressionou muito com o personagem Rodrigo Terra Cambará. O Doutor Rodrigo Terra Cambará. O personagem que o leitor pode acompanhar da infância à velhice. Atenção: o Doutor Rodrigo Terra Cambará não é o Capitão Rodrigo. O Capitão Rodrigo é um antepassado de Rodrigo Terra Cambará.
Adulto, o Doutor Rodrigo Terra Cambará queria viajar a Paris. Ele nunca conseguiu. Não se prive do prazer de ler O Tempo e o Vento porque revelo isso aqui.
Vou fazer outra revelação aqui. Mesmo assim, não se prive do prazer de ler O Tempo e o Vento pelo que revelarei. Rodrigo Terra Cambará nunca esteve em Paris, mas esteve no Rio de Janeiro, na esteira da Revolução de 1930. Na ficção de Erico, Rodrigo Terra Cambará é um personagem tão grande, que talvez a gente pudesse imaginar que iria encontrá-lo na fictícia Santa Fé ou no próprio Rio de Janeiro. E, bem, nessa história ele se envolveu com Getúlio Vargas, e esteve na então Capital Federal entre 1930 e 1945.
João, quase velho, soube da viagem de Maria, Janice e Regina para Paris. João costumava chamar as redes sociais da internet de redes antissociais. Mas nesse momento ele achou que a rede antissocial podia mesmo ser uma rede social mesmo.
Ali ele pôde acompanhar a viagem de Janice. Janice como uma flor em botão que vai desabrochando. O brilho no olhar de Janice. As imagens de Janice. Janice em um daqueles restaurantes com mesas na calçada. Janice em uma confeitaria. Janice nos tantos jardins que há na Cidade Luz. Janice na Torre Eiffel. O florescer de Janice. Sim, para João, Janice florescia.
João ficou contente de acompanhar, à distância, o brilho de Janice e a alegria de sua avó e de sua tia.
Janice não sabe quem é João, mas isso não importa.
Não havia redenção para a frustração dele. Uma frustração de cinquenta anos. Mas a vida mostrava que crianças podem viver grandes experiências.
João não foi ao Rio. Janice foi a Paris.
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Imagem gerada pela IA Whisk
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16, 17/06/2025.
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