Não é sobre chocolates
O cacau é um produto de origem americana. Os europeus o descobriram quando invadiram o território dos Astecas no século XVI. Misturado com água o cacau era o xocolátl (ou algo foneticamente semelhante), ou como talvez pudesse ser traduzido, “bebida amarga”. O alimento que hoje consumimos, em geral bastante doce, surgiu por obra de confeiteiros alemães e franceses no início do século XIX, quando adicionaram açúcar à mistura. No final do século XIX, além de açúcar, o chocolate recebeu leite, o que o tornou ainda mais suave. Veja quanta diferença entre o amargo do século XVI e o doce do século XIX.
E estamos naquela época de sermos cobertos por chocolates em supermercados e em outros comércios.
E estou naquela época em que, às vezes, fico introspectivo.
Penso nesse texto: “Porque eu recebi do Senhor este ensinamento que passei a vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês. Façam isso em memória de mim.’ Assim também, depois de jantar, ele pegou o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue. Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isso em memória de mim.’ De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor até que ele venha.”
O texto do parágrafo anterior foi escrito em uma época em que o cristianismo estava começando a deixar de ser um ramo minoritário do judaísmo para se tornar uma religião autônoma, digamos assim.
Bom. Seriam muitos kilobytes ou muita tinta para escrever sobre tantos aspectos da história do cristianismo até os dias de hoje. E isso nem interessaria, afinal são cada vez menos pessoas acreditando em deuses e religiões, quanto mais em uma religião e um deus específico.
Mas, para os que acreditam, esses são os dias mais importantes do calendário cristão. Talvez mais que o Natal. A reflexão da Quinta e da Sexta-Feira Santas e a celebração da Páscoa, a ressureição do Senhor.
Assim, Feliz Páscoa!
E se, bem, você não acredita em nada disso, aproveite o chocolate.
Pois como diz Fernando Pessoa, na sua versão heteronímica Álvaro de Campos: “Come chocolates, pequena; / Come chocolates! / Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. / Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. / Come, pequena suja, come! / Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! / Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, / Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.”
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14, 15/04/2024.
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