Márcio Souza, escritor amazonense
Pensei em chamar este texto de “Márcio Souza, escritor amazônico”, mas fiquei receoso que ficasse parecendo grandioso demais; excessivo.
Sou do tipo de pessoa que costuma comprar livros, sem a intenção de lê-los imediatamente. Já disse e repeti isso. Compro livros e os guardo, esperando por um momento em que eu ache oportuno iniciar a leitura. Um desses gatilhos é a morte do escritor. Pode parecer meio tétrico, mas não acho. É um motivo como qualquer outro. Ruim mesmo é não ler. Usei esse critério, por exemplo, para ler As Meninas, de Lygia Fagundes Telles. E agora voltei a usá-lo para iniciar a leitura das obras de Márcio Souza que estavam por aqui, aguardando a vez de serem lidas.
Iniciei por Galvez, Imperador do Acre; depois li Mad Maria.
Achei interessante que este escritor amazonense tivesse escrito esse dois livros, basicamente em função do Acre. Afinal, Galvez é sobre a tomada do Acre, território que pertencia à Bolívia e foi incorporado ao Brasil; e Mad Maria trata da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré – estrada de ferro surgida por um compromisso do governo brasileiro com o boliviano quando do tratado de anexação do Acre. O tom de Galvez é de comédia farsesca. Já o tom de Mad Maria é de drama, denúncia.
Depois de ler os livros, fiquei pensando nesse escritor amazonense. Amazônico. Também pensei que a região amazônica abrange outros países. Em especial o Peru e a Colômbia. E pensei que esses livros de Márcio Souza me remetiam para os autores mais conhecidos desses outros países amazônicos, respectivamente Mario Vargas Llosa e Gabriel García Marquez. Acho que nem um, nem o outro são da Amazônia, embora seus países compartilhem dessa região geográfica.
O que me chamou a atenção foi que Galvez, Imperador do Acre, parece que foi escrito com a leveza com que García Marquez escreveu Memória de Minhas Putas Tristes, embora, de fato, Márcio Souza tenha escrito seu livro muito antes.
Por outro lado, Mad Maria tem a denúncia e a sisudez de uma obra de Vargas Llosa, como, por exemplo, em Conversa no Catedral, ou em A Festa do Bode. Conversa no Catedral é anterior a Mad Maria; A Festa do Bode posterior.
Talvez essas minhas elucubrações não tenham a ver com a realidade, mas essas leituras recentes me deixaram pensando nisso. Em geral, escritores costumam ser grandes, extensos leitores. Quem sabe?
07, 20/03/2025.
Comentários
Postar um comentário