Diário – leituras – Mad Maria


Mad Maria é o segundo livro de Márcio Souza que leio em pouco tempo. O anterior foi Galvez, Imperador do Acre, cuja leitura foi concluída há pouco mais de um mês. Com isso, acredito que finalizo as leituras de livros desse autor que eu tinha armazenado em casa, e que resolvi ler por conta do seu relativamente recente falecimento. 

Só me faltaria encontrar algum outro livro escrito por ele perdido por aqui, mas acho que não vai acontecer. 

Mad Maria narra a construção de um trecho da ferrovia Madeira-Mamoré, ferrovia esta que foi construída no início do século XX, como parte de um acordo do Brasil com a Bolívia. Por meio desse acordo, o Brasil assumiu a soberania sobre o território do Acre, cedeu uma parte de terras próximas de onde hoje estão Acre e Rondônia à Bolívia e se comprometeu a construir uma ferrovia. Essa ferrovia seria construída para facilitar o escoamento da exportação de mercadorias bolivianas pela Amazônia até o Oceano Atlântico. 

Mad Maria é o nome que foi dado à locomotiva que operava nos caminhos de ferro da Madeira-Mamoré enquanto a ferrovia ia sendo construída, próxima do Rio Abunã. 

A história do livro é distribuída em dois núcleos. Um no meio da Floresta Amazônica, no canteiro de obras, a partir do qual a ferrovia era construída, com personagens que possivelmente são totalmente fictícios. Ali se destacam o engenheiro Collier, principal responsável pelo avanço daquele trecho da ferrovia e o médico Finnegan, que luta para manter os operários vivos e saudáveis. 

O outro núcleo se passa na então Capital Federal, com personagens calcados em pessoas históricas, como o empresário Percival Farquhar; o presidente da república, Hermes da Fonseca; J. J. Seabra, ministro de estado. Na capital da república o autor narra intrigas e conchavos. 

Ao final do livro, parte dos personagens dos dois núcleos se encontram em um visita de uma comitiva política levada ao local das obras, em Porto Velho. 

Apesar da importância de Collier, Finnegan, Farquhar ou Seabra, o livro não parece que seja sobre esses personagens em si. Parece muito mais uma demonstração sobre como essa obra, a Ferrovia Madeira-Mamoré foi construída, e uma reflexão sobre o Brasil. A política na chamada República Velha e a contratação de obras públicas. Quem sabe? A política brasileira e a contratação de obras públicas nos dias de hoje, ou nos dias em que o livro foi publicado.

Também há reflexões sobre civilização e barbárie. Questões que eram muito candentes no final do século XIX e início do XX. Sendo que se pode pensar em personagens que se imaginam como civilizados e que vão se barbarizando no decorrer do tempo. Essa discussão também está no famoso livro O Coração das Trevas, e em sua adaptação cinematográfica, o filme Apocalipse Now. Eu vi o filme, mas não li o livro. 

Mad Maria provavelmente demandou bastante estudo por parte do autor para criar esse romance histórico. 

É um bom romance. Pode suscitar no leitor alguma ideia sobre como foi construída uma ferrovia mais ou menos no meio do nada, e como era o Brasil por volta de 1912. 


SOUZA, Márcio. Mad Maria. Rio de Janeiro: Record, 2005.


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05, 07/03/2025.

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