E sobre junho de 2013?


Junho já vai acabando. 

O inverno começou em 21 de junho neste 2023. Mas nada que assuste. 

Ou talvez algo que assuste. Tipo um ciclone no litoral norte gaúcho, que causou inundações e mortes. No próprio litoral norte e na região metropolitana de Porto Alegre. Um pequeno fim de mundo. Alagamentos, árvores caídas, falta de energia elétrica.

Felizmente a maioria de nós sobreviveu e ações tem sido tomadas, tanto por parte do poder público, quanto da parte da solidariedade da cidadania. 

Neste final de semana, sábado, 24; domingo, 25, temperaturas atipicamente elevadas. Praticamente um segundo veranico de junho (o primeiro foi bem no início do mês). 

Neste junho de 2023, a imprensa muito comentou sobre os dez anos das manifestações de junho de 2013, e o que isso significou para o Brasil. 

Não sei o que isso possa ter significado para os cerca de duzentos milhões de brasileiros. Para mim, politicamente, foi o início de um declínio ladeira abaixo. 

Eu, de fato, tenho uma certa preguiça e um desânimo para escrever sobre isso, mas vamos lá. 

Eu sou essa pessoa que passou de adolescente a adulto no decorrer da década de 1980. Fim do regime militar, aumento das liberdades civis, nova Constituição Federal, retomada das eleições para Presidente da República. Tempos de esperanças para o Brasil, e para mim, dentro desse Brasil. Fim do regime militar; frustração com adoecimento e morte de Tancredo Neves; presidência de José Sarney; eleição de Fernando Collor; impeachment/renúncia de Fernando Collor; presidência de Itamar Franco; Plano Real; presidência de FHC; eleição de Lula. Apesar de alguma frustração aqui e ali, parecia um país que ia melhorando. Bem devagar, mas melhorando. Talvez o tal “país do futuro” de Stefan Zweig pudesse se tornar o país do presente. 

Talvez o grande momento disso tenha sido o fim do segundo mandato presidencial de Lula. 2010. Os tais 80% de aprovação popular, e o início do governo Dilma.

Talvez o grande erro de Lula tenha sido se esforçar para fazer o Brasil sede dos grandes eventos esportivos mundiais. A Copa do Mundo de Futebol, em 2014; e os Jogos Olímpicos de Verão, em 2016. Na minha opinião um projeto megalômano e desnecessário. Mas o que foi feito, foi feito.

Na minha percepção, as manifestações de 2013 surgiram como um desconforto com o início de um terceiro mandato para o Partido dos Trabalhadores, sem que as administrações tenham entregue tudo que se esperava delas, e também pelo país gastar em obras que muita gente via como desnecessário ou desperdício, isto é, a infraestrutura para os eventos esportivos e os tais estádios de futebol “padrão FIFA”. 

Não era um fenômeno isolado, uma coisa só do Brasil. Naquela segunda década do século XXI tivemos revoluções coloridas (tipo a laranja, vejam só, na Ucrânia), o Occupy Wall Street, a Primavera Árabe. 2013 era também uma manifestação da crise de representação da democracia representativa no Brasil, e começou como uma oposição de esquerda ao governo do PT. 

Talvez tenha sido a violência da repressão policial, em especial da polícia militar de São Paulo, que gerou uma reação tremenda, fazendo com que as relativamente pequenas manifestações contra o aumento das passagens de ônibus, se tornassem passeatas com milhões de pessoas espalhadas pelo país. 

E com esses milhões, os protestos de jovens de esquerda se tornaram manifestações de direita. A direita se tornou hegemônica nas ruas. E houve a Operação Lava-Jato. A Operação Lava-Jato me pareceu um projeto messiânico, que queria salvar o Brasil da corrupção. Corrupção é esse bicho-papão que, em geral a direita, usa para envenenar o debate político (não que a corrupção não exista, mas o discurso é muito mais operacional, para criminalizar o adversário, que ético visando melhorar a administração pública).

E, na minha cabeça, começamos ladeira a baixo.

Nas eleições de 2014, tive sérias discussões com muitas pessoas, com quem a questão política era antes pacificada. Comentei com alguém que mesmo tendo ganhado a reeleição, Dilma e o PT tinham perdido. 

Em 2015 o novo Congresso elegeu Eduardo Cunha presidente da Câmara dos Deputados. 

Em 2016, a Câmara dos Deputados aprovou o afastamento da presidenta Dilma. Nesse ano se acabaram minhas esperanças na evolução política do Brasil. Parei de conversar a respeito. 

Como sempre pode piorar, em 2018, foi eleito presidente alguém contra o meio ambiente, defensor da tortura e da morte. Por quatro anos ele não foi importunado nem pelo Congresso, nem pelo Procurador Geral da República. 

Como pode continuar ruim, foi por muito pouco que o celerado não foi reeleito. Há aí quase sessenta milhões de eleitores que votam em um celerado para não votar em um “esquerdista”. O que me parece é que são quase sessenta de milhões de pessoas sem empatia e sem compaixão, que não quiseram enxergar que quase reelegeram um apologista da violência.

Isso foi, em resumo, o que me ficou de 2013.

Estou a poucos anos de me tornar oficialmente um idoso. Já não tenho muito futuro. Quando eu era adolescente, ouvia falar do Brasil como país do futuro. Hoje acho que vivo no Brasil, país sem futuro. 


25, 27/06/2023.

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