Será o fim das Lojas Americanas?



Tem sido amplamente noticiado que foi encontrada o que é, pelo menos, uma vasta inconsistência contábil na contabilidade das Lojas Americanas. Há inclusive suspeitas de fraude. 

No meio do noticiário econômico dando conta do derretimento no preço das ações e do pedido de recuperação judicial para tentar evitar falência, surgiram textos sobre o valor sentimental das Lojas Americanas. 

Foi assim, que em 18 de janeiro passado, um certo Cleo Guimarães usou um texto na Folha de São Paulo, para demonstrar saudades... da Mesbla! Em suas memórias de menino de classe média alta (esquerdistas chamariam do pequeno burguesa), ele relembra seu pai pedindo escalopinho ao molho marsala, no restaurante da Mesbla que ficava na Rua do Passeio, no Rio de Janeiro. E relembra também os presentes que lhe foram comprados naquela loja, de relógio a bicicleta. Ele começa o texto dizendo que as Americanas não deverão deixar saudades. E termina o texto informando que depois do encerramento das atividades da Mesbla, naquele mesmo local, passou a funcionar uma unidade das... Lojas Americanas. 

Já um outro texto do Estadão Conteúdo, sem autoria indicada, reproduzido no Infomoney diz que as Lojas Americanas deixarão sim saudades. Segundo esse texto, os mais velhos haverão de relembrar do misto quente, servido na loja das Americanas, na Rua Direita, em São Paulo. Já os mais jovens lembrarão que se tornou comum passar no mais recente formato das Lojas Americanas como um lugar para comprar salgadinhos ou chocolates antes de ir ao cinema. 

Pois é. 

Eu fiquei me perguntando pensando justamente sobre qual encarnação das Lojas Americanas eu sentiria saudades. 

Se aquela da minha infância, equivalente às Americanas dos "mais velhos" na frase acima, onde minha irmã me levava quando eu era criança (minha irmã era também minha madrinha, portanto uma segunda mãe enquanto eu era criança. Me tornei efetivamente irmão só bastante tempo depois). Nunca comi misto quente (aqui em Porto Alegre, costumamos chamar misto quente de torrada), mas foi ali que aprendi o que eram sundaes e bananas split, aqueles sorvetes que pareciam, e eram, imensos para uma criança. Um pouco mais tarde eu me tornei consumidor do cachorro-quente com pimentão no molho. Além disso, na minha infância as Lojas Americanas eram para mim grandes depósitos de brinquedos.

Dessa minha infância, as Americanas ainda ficaram marcadas pelo incêndio que consumiu a maior loja aqui na cidade de Porto Alegre. Foi em 1973. Depois de restaurada a loja voltou a operar e ainda é a maior de Porto Alegre, ali na Rua da Praia esquina com a Uruguai. 

Mais recentemente, as Lojas Americanas se tornaram para mim um lugar para comprar itens básicos e baratos, tipo um pacote com quatro pares de meia por trinta reais; ou duas camisetas por preço semelhante. 

Felizmente não sou acionista das Lojas Americanas. 

Em todo caso, se a rede falir, acho que sentirei falta das lojas onde posso comprar meias, camisetas e cuecas baratas. 

Mas sinto saudades mesmo daquele lugar com as lancherias, onde que eu podia tomar sorvete com a minha irmã na década de 1970.


04, 06/02/2023.

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