Diário - leituras - As Sobras de Ontem


Comprei esse livro motivado pela propaganda da editora na revista Piauí. Dizia "Um retrato do Brasil através da dissolução de sua elite econômica, uma das estreias mais promissoras da nova literatura brasileira", e mais, uma apresentação de Michel Laub, "Falar da elite brasileira sem caricatura, tentando entender os afetos que geram sua degradação privada e pública no passado e no presente, já seria algo raro na nossa literatura. Mas a estreia de Marcelo Vicintin vai além, acrescentando a esse ponto de vista sabor, humor e habilidade narrariva." Ainda, a orelha é escrita pela resenhista Camila von Holdefer, com uma boa síntese da história. 

Dito tudo isso, o livro é bom, mas passa longe de retrato do Brasil através da dissolução de sua elite econômica. Parece mais um retrato de certa elite paulista, através de dois relativamente jovens representantes. 

Egydio Poente, um filho da elite que se tornou líder da empresa de navegação da família e acabou preso por conta de corrupção, e Maria Luiza Alvorada, uma espécie de arrivista, que quer crescer economicamente, mas vai praticando seus, digamos, pecados, no decorrer da trama. 

A novela é boa, os personagens verossímeis, mas gerou certa frustração pela propaganda grandiloquente. 

Em lugar de um retrato da elite, parece mais uma olhada ao microscópio. Vemos duas células, mas é difícil ver o tecido ou o órgão em perspectiva. Pensar em retrato de um povo através de alguns personagens me leva a Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa, sobre o Peru, ou os dois últimos volumes de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, sobre o Rio Grande do Sul. Talvez minha vara esteja muito alta. 

Tudo bem. Concordo que é uma estreia promissora da nova literatura brasileira. 


VICINTIN, Marcelo. As Sobras de Ontem. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. 


21/08/2020.

 

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