Viagens


A primeira viagem de que me lembro foi pelas matas do Brasil Colônia. Matas fechadas, cheias de mistérios, de homens que iam em busca de riquezas, e em luta contra índios e feras que pudessem cruzar seu caminho. Hoje sei que a floresta fechada, imagino que do século XVI, é o que hoje chamamos de Mata Atlântica, mas que me vem ao imaginário como hoje vemos a Amazônia. Florestas e mais florestas, homens em andrajos abrindo picadas. Socorro-me da internet e sei que quem me conduziu por aquelas aventuras foi um escritor chamado Francisco Marins, e que devo ter lido “Expedição aos Martírios” ou "Volta à Serra Misteriosa", ou ambos. Muito curioso, ganhei esse livro, ou esses livros, quando eu devia ter oito ou nove anos, na minha memória, de meu tio. Curioso porque eu não costumava ver muitos livros na casa desse tio. Aliás, livros não eram muito comuns na casa de familiar nenhum. A exceção era minha própria casa. Minha irmã era uma leitora regular. 

Acho que tempos depois ainda ganhei, do mesmo Francisco Marins, “Viagem ao Mundo Desconhecido”. Claro, se não me trai a memória. Com ele viajei pelos oceanos do mundo, num livro que contava a história da primeira volta ao mundo documentada, liderada pelo português Fernão de Magalhães, a serviço do rei da Espanha. Um truque que ainda hoje acho engenhoso é que a narração parte de pessoas conversando em uma fazenda no interior de São Paulo, e uma delas começa a contar a história do navegador português. Oceanos sem fim, as dificuldades da navegação no século XVI. E conheci a palavra escorbuto que nunca mais esqueci. 

Nas minhas viagens pela leitura, passei pelos gibis. Turma da Mônica, Turma do Bolinha e da Luluzinha, patota da Disney.

E pelos livros da Coleção Vaga-lume da Editora Ática. Bons, mas que me levaram a lugares genéricos e abstratos. 

E viajei para a Porto Alegre do passado. Quem me levou foi Moacyr Scliar. Lembro de alguma referência à Rua Duque de Caxias, quando eu mesmo subia aquela rua no tempo que eu estudava à noite no Colégio Ernesto Dornelles. Daquele tempo e daquele livro (ou seriam livros? “O Ciclo das Águas” ou “Os Deuses de Raquel”?) lembro do meu primeiro contato com os judeus do leste da Europa, e com a notícia que mulheres judias eram trazidas de lá para serem prostituídas em bordéis porto-alegrenses. 

E falando em judeus, creio que o primeiro livro que era realmente um relato de viagem que li foi “Israel em Abril”, de Érico Veríssimo. Um livro que tomei emprestado de uma colega de serviço, que nunca cheguei a devolver. Aquela foi uma viagem a Israel, em especial aos seus kibutzim. O que lembro daquela leitura foi a diversidade dos judeus de Israel. Em um kibutz formado por pessoas do leste da Europa, elas eram loiras. Quando os colonos procediam do sul da Europa eram morenos. E além do iídiche, descobri que havia na comunidade judaica originária da Espanha, um dialeto chamado ladino. 

E eu poderia terminar por aqui minhas viagens. Essas primeiras viagens que foram de minha formação como leitor. Mas ainda gostaria de citar que sou fascinado pela Lima de Vargas Llosa em “Conversa na(no) Catedral”, e de “Contar Tudo” de Jeremias Gamboa. E pelos Estados Unidos de John Updike, suas descrições de ruas, avenidas, costas marítimas. Por fim, só para citar, voltei a Porto Alegre, pelas letras de Taylor Diniz - “Mistério no Centro Histórico”.

Continuo aberto a viagens. 

29/06/2017.

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