O Encantamento (show de celebração dos trinta anos de alguns discos da Legião Urbana)



Estive em um show de rock sexta-feira passada. Foi no Araújo Vianna. Uma celebração dos trinta anos de alguns discos da Legião Urbana, em especial do "Dois" e o "Que País é Este?". 

Já me acostumei a ver e dizer de shows de rock como uma espécie de culto, se não pagão, pelo menos laico. Centenas, às vezes milhares de pessoas reunidas para celebrar a música, cantando e dançando juntas, mesmo sendo todas estranhas umas para as outras. 
Trinta anos. Faz mais de vinte que Renato Russo, o vocalista e grande poeta da Legião, nos deixou. E deixou todos nós, que o admirávamos, um pouco mais órfãos. 

Não que nos tenha deixado por completo. O fato de nos lembrarmos dele, faz com que esteja sempre por perto. Nos corações. 

De quebra, ainda foi lançada uma pilha de álbuns póstumos, desde o último gravado em estúdio (Uma Outra Estação), passando pelas compilações, e pelos discos “ao vivo”.

Dito tudo isso, o show de sexta foi mágico, como podem soar mágicos os ídolos para seus fiéis. 

Mágico ver e ouvir Dado Villa-Lobos cantando “Conexão Amazônica”, ou, no bis, Marcelo Bonfá cantando “Vento no Litoral” (e, de quebra, comentando sua experiência de caminhar ao longo do Guaíba, na Ponta do Gasômetro, um outro vento num outro litoral). 

Empolgante ver a empolgação de Mauro Berman, para lá e para cá, tocando seu baixo elétrico. Criança comemorando o dom de estar vivo. 

Encantador André Frateschi, a pessoa encarregada de substituir o insubstituível no palco. E a sedução é que Frateschi não é Renato Russo, nem quer ser, nem tenta imitá-lo. Frateschi é ele mesmo, o cantor-ator que atua como astro do rock. Como um personagem que assume a personalidade do ator. As interpretações de Frateschi também são celebração. Uma empolgação que contagia a plateia. O showman que canta e dança. Flutua, rodopiando pelo palco, tal qual bailarino clássico. 

Essa plateia de quarentões e cinquentões, seus filhos e netos. Gente que vem ao show para cantar, dançar, se emocionar e lembrar quando tinha quinze ou vinte anos. 

Como não me lembrar do único show que eu havia visto da Legião, o último com Renato Russo, em Porto Alegre, 1994, num Gigantinho totalmente lotado, ingressos esgotados (inclusive com derrame de ingressos falsos), com o público até atrás do palco. Aquelas talvez 14 mil pessoas, em um show que não queriam que acabasse. Com o lançamento de rosas ao fim do espetáculo, e o acionamento de música operística para acalmar as pessoas que não queriam que a Legião fosse embora. 

Como não se emocionar como o mesmo Frateschi, pura empolgação, que desfralda espécie de bandeira branca, com a imagem do grupo da capa de "Que País é Este?", em branco e preto? 

Como disse Dado Villa-Lobos em recente entrevista a respeito do show. Renato Russo está sempre presente. 

E todos nós, que lá estivemos, lembramos. 

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A animação é uma gentileza dos algoritmos do Google Photos.

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26/06/2019.

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