Diário - leituras - O Nariz de Cleópatra


Diário - leituras - O Nariz de Cleópatra


“O Nariz de Cleópatra” é, como diz o subtítulo, um livro de ensaios. Para o autor “ensaios sobre o inesperado”.

Daniel Boorstin é um historiador, e acabou como encarregado da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, entre outras atividades. Escreveu sobre História dos Estados Unidos, e um dos seus livros mais conhecidos se chama justamente “Os Americanos”.

Apesar do título, não há neste livro nenhum ensaio que aborde o nariz de Cleópatra e como esta questão anatômica poderia ter influenciado o Mundo Antigo. São 17 ensaios que falam de diversos assuntos.

Eu destacaria o primeiro que fala de uma viagem do capitão inglês James Cook, que foi enviado ao Pacífico Sul para comprovar que lá não havia um outro continente entre a Austrália, a América e a Antártida. Foi uma comprovação negativa, segundo as palavras do próprio autor. E nisso ele antecede as descobertas das ciências. Segundo Boorstin, os cientistas estão fazendo esforços para comprovar que certas coisas não existem, ou que certos fatos não são como pensamos. No exemplo dele, descobriu-se desde o século XV que a Terra não é o centro do Universo, depois que o Sol não é o centro do Universo, etc, etc.

Outros ensaios avaliam avanços científicos e tecnológicos, e a forma como isso molda nossas vidas e nossa cultura.

Há mesmo um ensaio em que Boorstin faz uma reflexão sobre suas lembranças sobre seu pai, e sobre o caráter desse pai, um cidadão americano de ascendência judaica.

Há um ensaio sobre o livro de Tocqueville sobre a América, isto é, os Estados Unidos. E em contraposição há um ensaio sobre um livro mais ou menos equivalente, também escrito na metade do século XIX em que um nobre francês, o Marquês de Custine, visita e descreve a Rússia.

Mas me parece que o cerne do livro são mesmo suas reflexões sobre os Estados Unidos.

Num ensaio sobre a cidade de Washington, capital do país, ele afirma que a capital dos Estados Unidos não parece uma cidade americana, com seus prédios baixos, cuja altura fica abaixo do obelisco do Monumento a Washington.

Noutro ensaio ele comenta como foi edificada a cúpula do Congresso do país.

Outro ensaio ainda comenta o papel da impressão de tipos móveis para a elaboração da Constituição do país.

E o ensaio final é justamente sobre o caráter dos Estados Unidos.

Disso concluo que o ponto de vista de Boorstin sobre os Estados Unidos é bastante idealista. Talvez aquilo que os cidadãos eminentes do país pensem sobre o próprio país. Ou como eu talvez dissesse, aquele humanismo que emana da série original de “Jornada nas Estrelas” (“StarTrek”), a série original dos anos 1960. Uma terra de valores humanistas e iluministas, de liberdade e prosperidade, pronta a acolher aqueles que nela se dignem a trabalhar e prosperar. Que acolhe mesmo os rejeitados do mundo, como os judeus, entre os quais Boorstin se inclui. Este é o retrato que o livro mostra.

O livro foi publicado originalmente em 1994, antes portanto do Governo George W. Bush e seu ataque às liberdades civis do país. Boorstin faleceu em 2004. Não estou certo se deixou algo escrito sobre isso.

O livro por si só não chega a ser memorável. Seria talvez um complemento de suas outras obras, como “Os Americanos” que já citei.



BOORSTIN, Daniel. O Nariz de Cleópatra, Ensaios sobre o Inesperado.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.




20/03/2013

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