Primeiro de dezembro de 2025


– De novo?

– Pois é. Fiz de Novo. Que nem a Britney Spears. Vou continuar fazendo. É meu jeito de me expressar.

– Semana passada foi sobre a mãe.

– Sim. Dona Nadir. Faz umas duas ou três semanas que se completaram trinta anos que ela se foi.

– E agora é o pai.

– Sim. O Seu Oswaldo. Se estivesse entre nós, estaria completando 109 anos.

– Pouca gente completa 109 anos.

– De fato. A expectativa de vida para os homens no Brasil é de pouco mais de 70 anos. Justamente a idade com que ele se foi. 73 anos em 1990. Se bem que naquela época, faz 35 anos, a expectativa de vida masculina devia ser menor.

– Mas por que mesmo essa fixação em falar de quem já se foi?

– Não é bem uma fixação. Acontece que as datas se repetem ciclicamente. Anualmente. Sabe como é. A gente fica usando efemérides o tempo todo para escrever esse tipo de texto. Vou comentar sobre as efemérides que movem o comércio no final do ano: até umas décadas atrás o ano vinha vindo (o ano vir vindo é uma otima construção!) e quando chegava o final de setembro, começava a promoção do Dia das Crianças. Logo após o Dia das Crianças começava a promoção do Natal. Agora o Halloween se popularizou, está praticamente incorporado ao nosso calendário. Há mais uma efeméride e uma oportunidade de vendas.

– E?

– E a gente escreve. A gente escreve crônica sobre o Dia das Crianças todo ano. A gente escreve crônica de Natal todo ano. Aliás, a decoração de Natal já está por todo lado, estamos em dezembro afinal. Mesmo sendo verão no hemisfério sul, temos Papai Noel com casaco e botas, e algodão imitando neve ao nosso redor.

– E aí?

– Aí que a gente lembra. Lembra quando é o aniversário do pai. Lembra quando a mãe morreu. Quando eles morrem a ausência deles se torna uma presença. Ou será que a presença deles se torna ausência? Não sei. Cheguei a comentar na psicoterapia. Ou a psicoterapeuta comentou comigo. Esse detalhe eu já não me recordo.

– Por isso as repetições?

– Acho que sim. Todo ano as datas se repetem. Todo ano nessas datas especiais a saudade bate. Todo ano eu escrevo algo a respeito. Se bem que para outubro, eu tenho repetido um texto velho

– Últimas palavras para o momento?

– Já falei em presença da ausência. Vou repetir o clichê, aquele que se bem apreendido pode ser emocionante. Eles ainda vivem em mim. Com sorte eu viverei em alguém quando me for. Com sorte, quem me suceder, e lembrar deles, fará com que vivam mais um pouco. 


02/12/2025. 

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