Maio de 2025: a despedida de Mujica e veranico parte 2


Eu estava em Montevidéu em março de 2015, quando terminava o mandato de José Mujica na presidência da República Oriental. Gosto muito del paisito ao sul do Rio Grande do Sul, e de sua capital, que fica a uns 850 quilômetros de Porto Alegre. 

Naquela ocasião achei comovente como parte da população montevideana se manifestava nas ruas no momento da transferência de poder. Por conta das peculiaridades da política uruguaia era como uma espécie de devolução. Mujica havia recebido o poder de Tabaré Vásquez em 2010, e agora o repassava ao mesmo Tabaré, cinco anos depois. 

O tempo a todos nos consome. Tabaré Vásquez concluiu seu segundo mandato presidencial e faleceu seis meses depois, em decorrência de um câncer. 

Dentro da política uruguaia, José Mujica foi de militante do Partido Nacional, de direita, até senador e presidente da república pela Frente Ampla, de esquerda, tendo aderido à luta armada nos anos 1960. 

Contudo é claro que ele adquiriu a proeminência que adquiriu após a presidência. Foi só então que notamos que ele se deslocava por Montevidéu em um velho fusca. Morava em uma chácara simples nos arredores da cidade, junto com a esposa, a também senadora Lucía Topolansky. Doava a maior parte de seu salário à caridade. Ou seja, fazia muito do que certo senso comum dizia que políticos deveriam fazer. 

Dentro de seu governo, procurou combater a pobreza da maneira que foi possível. Acredito que foi por isso que testemunhei as manifestações de agradecimento nas ruas de Montevidéu, em 2015. 

Além disso, entre as medidas de seu governo se destacam a legalização do consumo de maconha, a regulamentação do direito ao aborto e o casamento homoafetivo. 

Uma medida que me chocou foi a extinção da companhia aérea uruguaia, a Pluna, quando um sócio privado deixou a empresa semiestatal. Eis um político de esquerda apegado ao orçamento do país.

Terminado seu governo, conhecida sua vida frugal, Mujica passou a desempenhar certo papel de sábio. Sempre procurado e entrevistado. Era uma espécie de exemplo de vida. 

Não é a toa que seu falecimento, apesar de previsto – estava com 89 anos de idade e era vítima de um câncer no esôfago, além de portar doenças crônicas – foi lamentado. E esse ateu foi, tem sido, celebrado como um santo. 

As pessoas também chegam a um fim. 

Mujica se vai menos de um mês após o Papa Francisco. 

Enquanto isso, passamos por outro veranico neste maio ensolarado em Porto Alegre. 


.



A imagem, retirada do Sintpq, não tinha crédito da(o) fotógrafa(o)

.

18, 19/05/2025.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Jussara Fösch e o paradoxo da rede social

16 de outubro de 2024

Eu, a Oficina Santa Sede e a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre