Cannes 2025, Wagner Moura, Kleber Mendonça Filho


E, de repente, não mais que de repente, fazendo um eco sem sentido com o Soneto de Separação do Vinicius, eis que o Brasil ganha a Palma de Ouro para ator principal e para diretor em Cannes pelo filme O Agente Secreto. Incrível. Impressionante. 

Alguns pensam que este é o país em que se plantando nada dá.  Pois o país de certa elite tosca acaba de receber prêmios em Cannes. 

Em janeiro Fernanda Torres havia recebido o prêmio de melhor atriz dramática no Globo de Ouro por sua atuação em Ainda Estou Aqui. Em março, o mesmo filme pelo qual Fernanda Torres foi laureada ganhou o Oscar de Filme Internacional. 

Agora Wagner Moura venceu em Cannes como melhor ator, e Kleber Mendonça Filho como melhor diretor. Incrível. Impressionante. 

E nem chegamos à metade desse ano incrível, impressionante, de 2025. 

Vale repetir meu hino nacional alternativo e íntimo, daquele bardo que nos deixou precocemente em 1996.

“Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos covardes

Estupradores e ladrões

Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão

Vamos celebrar nosso governo

E nosso Estado que não é nação

Celebrar a juventude sem escola, as crianças mortas

Celebrar nossa desunião

Vamos celebrar Eros e Tânatos

Perséfone e Hades

Vamos celebrar nossa tristeza

Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas

A cada fevereiro e feriado

Todos os mortos nas estradas

Os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça

A ganância e a difamação

Vamos celebrar os preconceitos

O voto dos analfabetos

Comemorar a água podre e todos os impostos

Queimadas, mentiras e sequestros

Nosso castelo de cartas marcadas

O trabalho escravo, nosso pequeno universo

Toda a hipocrisia e toda a afetação

Todo roubo e toda indiferença

Vamos celebrar epidemias

É a festa da torcida campeã

Vamos celebrar a fome

Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade

Vamos machucar o coração

Vamos celebrar nossa bandeira

Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo que é gratuito e feio

Tudo o que é normal

Vamos cantar juntos o hino nacional

A lágrima é verdadeira

Vamos celebrar nossa saudade

Comemorar a nossa solidão”

Enfim. Obrigado, Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho, por mais esse desafogo. 


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Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho em foto de Manon Cruz para a Reuters, vista no InfoMoney

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25, 27/05/2025. 

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