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Mostrando postagens de abril, 2025

As mortes dos Papas e a morte do Papa Francisco

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“O Papa é gaúcho?” Ouço meu vizinho cinquentão repetindo a frase em voz alta. Talvez para si mesmo. Talvez para a esposa e a filhinha. A pergunta retórica coloca-nos, meu vizinho e eu, no mesmo horizonte de lembranças. Nesse caso, a visita do Papa João Paulo II segundo ao Brasil, e a Porto Alegre, em 1980. Entre o refrão de uma música muito cantada na época – algo como “a bênção João de Deus, nosso povo te abraça, tu vens em missão de paz, sê bem-vindo e abençoa esse povo que te ama” – e a pergunta que abre este texto, feita pelo próprio Santo Padre, eis algo que ficou na memória. Eu lembro ainda de ter realizado um trabalho escolar sobre a visita do Papa para a disciplina de Moral e Cívica. Conheci uma moça que queria presenteá-lo com uma Bíblia enorme; não conseguiu e chorou de frustração. Em um país que historicamente teve maioria católica, os Papas acabam sendo referência.  Eu me lembro de estar indo para a escola em uma manhã fria de 1978 quando saiu a notícia da morte do Papa...

Junto e misturado (II): efemérides de abril de 2025

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Em meados de março passado comentei sobre a coincidência de o Carnaval porto-alegrense ter caído no mesmo final de semana que antecedia o Dia de São Patrício, ou, em bom português, o Saint Patrick’s Day . Isso aconteceu basicamente porque o desfile das entidades carnavalescas não aconteceu na data calculada pela Igreja Católica, que deveria ter sido entre 1º e 4 de março – inclusive há relato de uma tentativa de celebração de Carnaval no bairro boêmio da Cidade Baixa nesse 1º de março ter sido violentamente reprimido . Mas, enfim, março passou.  Já passamos da metade de abril.  Abril também trouxe sua mistura.  Da minha infância algumas lembranças ficaram fixadas das celebrações de abril. Na segunda metade da década de 1970 eu cursei as então terceira e quarta séries do que era o ensino primário, a primeira metade do então chamado primeiro grau. Na minha cabeça ficaram memória de manhãs frias, em que muitas vezes, antes do início da aula havia cerimônias cívicas no pequen...

Trem para Zurique

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Antonio Cícero estava doente De doença incapacitante Jean-Luc Godard e Daniel Kahneman Estavam de saco cheio  . Fonte da imagem: Dica Paris . 13/04/2025

Não é sobre chocolates

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O cacau é um produto de origem americana. Os europeus o descobriram quando invadiram o território dos Astecas no século XVI. Misturado com água o cacau era o xocolátl (ou algo foneticamente semelhante), ou como talvez pudesse ser traduzido, “bebida amarga”. O alimento que hoje consumimos, em geral bastante doce, surgiu por obra de confeiteiros alemães e franceses no início do século XIX, quando adicionaram açúcar à mistura. No final do século XIX, além de açúcar, o chocolate recebeu leite, o que o tornou ainda mais suave. Veja quanta diferença entre o amargo do século XVI e o doce do século XIX.  E estamos naquela época de sermos cobertos por chocolates em supermercados e em outros comércios.  E estou naquela época em que, às vezes, fico introspectivo.  Penso nesse texto: “Porque eu recebi do Senhor este ensinamento que passei a vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é e...

Diário – leituras – Raízes do Brasil

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E lá se vão alguns dias desde que terminei de ler Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda,  um dos grandes clássicos entre livros chamados de “explicação (ou explicações) do Brasil”, publicados na primeira metade do século XX.  Os outros dois grandes clássicos seriam Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre; e Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior. Na década de 1930 Sérgio Buarque de Holanda era um historiador e intelectual respeitado, e não apenas o “pai do Chico Buarque”, como acabou se tornando a partir dos anos 1960. Consegui chegar ao final da leitura na minha segunda tentativa.  :) Não me foi uma leitura super fluente, como é possível imaginar. O livro virou um clássico em seu pioneirismo de tentar explicar o Brasil a partir da análise da história do país,  e a partir de sua formação, desde que os portugueses por aqui chegaram. Além de tentar interpretar o funcionamento do país, Sérgio Buarque de Holanda ainda faz comparações com os paí...

Início do Outono de 2025

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4 de abril de 2025, uma sexta-feira, foi o primeiro dia de outono em Porto Alegre neste ano.  Não me entendam mal. Eu sei que oficialmente, pelo movimento dos corpos celestes, Terra e Sol, o outono começou em 20 de março passado. Mas desde então eu me sentia em um prolongamento do verão. Um verão que custava a terminar.  O alívio veio a partir da chegada de uma frente fria, que também gerou uma tempestade, em 1º de abril, terça-feira (não minto).  A tempestade também trouxe transtornos para a cidade. Novos alagamentos. Falta de energia elétrica em diversas regiões. Sobre as duas coisas, há registros que se aproximam do anedótico, no jornal eletrônico Matinal, na edição do dia seguinte à tempestade, do dia 2 de abril.  O alcaide Sebastião Melo declarou candidamente que “que as redes de drenagem da capital não têm capacidade para absorver grande volume de água caindo em pouco tempo. Melo disse que choveu 75 milímetros em 20 minutos em alguns bairros, uma ‘bomba d’água’...

Presença e ausência

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De repente a presença vira ausência E a ausência vira presença E a presença da ausência gera um grande estranhamento  Depois de seis anos . . Quinta-feira, 27 de março de 2025, por conta da partida do Gatinho para ir morar em outro lar 31/03/2025.

Jussara Fösch e o paradoxo da rede social

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Esta semana a rede social do livro dos rostos me lembrou do aniversário de Jussara Fösch.  De fato, seriam 59 anos no dia em que escrevo (30 de março).  Recebi o lembrete, e escrevi no perfil dela nessa rede – congelado como um memorial –, expressando minha saudade por uma pessoa que partiu muito mais cedo do que nós esperávamos, ou, pelo menos, que eu esperava.  Afinal era relativamente jovem – mais jovem que a idade média projetada para as mulheres brasileiras –; tinha acesso à medicina preventiva, apesar das condições que vêm com o tempo, a exemplo da hipertensão; não era sedentária.  São as coisas que não se explicam.  Uma mui sumária cronologia, que nesse caso relaciono a mim, diria que os últimos dias de Jussara em 2024 foram seu aniversário, em 30 de março, quando completou 58 anos; a presença com que ela me felicitou no lançamento do meu livro Confinado, um diário da peste, no dia 5 de abril; a notícia que ela teve um mal súbito e foi internada em uma UT...