Godard e um tempo que não vivemos



Este blogue está se tornando algo fúnebre. 

Nesse aspecto quem nos deixou na semana passada foi Jean-Luc Godard. Ele faleceu terça-feira passada, 13 de setembro, aos 91 anos. 

Eu o tinha como um diretor de cinema francês. Agora o noticiário o declara franco-suiço.

As primeiras notícias eram que ele estava doente, e teria recorrido ao suicídio assistido na Suiça. Notícias mais recentes falam que ele até gozaria de relativa boa saúde aos 91 anos, mas que não estaria interessado em continuar, nas condições em que se encontrava. 

Que posso dizer de Godard? Quase nada. Não vi seu filme, talvez, mais famoso, Acossado (no Brasil. "À bout de souffle" no original, que o Google traduz como "sem fôlego". O que pode resultar que o título em português brasileiro é adequado). O único filme de Godard que sei que realmente vi foi Alphaville (1965). Devo ter assistido este filme em fita VHS. Do que me lembro? Basicamente de nada. Talvez uma história de suspense em um mundo distópico. 

Quando eu era jovem há menos tempo, houve certa onda por conta de seu filme oitentista, "Je vous salue, Marie". Naquela metade dos anos 1980, o Brasil tinha seu primeiro presidente civil, depois de 21 anos de regime militar. Mas a censura achou que tentar contar a história de Maria (ou Santa Maria para a tradição católica), em versão no século XX, com nudez da Virgem era demais. No fim, aquele filme ficou marcado como o último censurado. Depois foi liberado. 

Enfim, não sou um especialista em Godard. 

Mas é curiosa a ampla cobertura que, por exemplo, o jornal Folha de São Paulo fez do falecimento do cineasta. 

Talvez uns dez textos a respeito. Desde o necrológio propriamente dito; passando por seu rompimento com o também cineasta francês Truffaut; a influência de Godard sobre a Tropicália; o machismo de Godard e sua relação com as mulheres; e uma crônica sobre como a geração TikTok poderia descobrir Godard. 

E fotos. Muitas fotos. Fotos de Godard ao longo do tempo. Fotos de suas produções, em especial o registro das gravações de Acossado. Fotos de suas ex-mulheres, em especial Anna Karina e Anne Wiazemsky (que estrelaram seus filmes dos anos 1960). 

E isso é tão fascinante. Fotos em preto e branco, imagens com granulação. De um tempo em que se colocava um rolo de filme na máquina, clicava-se as fotos, e submetia-se este filme a processos químicos que, ao final, gerariam o registro do que se queria registrar. 

E voltamos a um tempo mítico entre o final dos anos 1950 e início dos 1970. 

Seja com a Nouvelle Vague, no cinema francês, que seguiu o Neorrealismo italiano, ou o Cinema Novo no Brasil. Talvez com a Bossa Nova (carioca e tomada por brasileira). E o Realismo Mágico latino americano. 

Anos Dourados no Brasil (que talvez não tenham durado mais que os cinco anos do governo JK), em que Brasília exitava (exitava?) em tomar o lugar do Rio de Janeiro como capital do Brasil. 

Divago?

Talvez. 

E ainda, por estes dias, estou lendo o Diário Selvagem, de José Carlos Oliveira (1934-1986). Carlinhos Oliveira para seus íntimos, jornalista e escritor, capixaba, radicado no Rio de Janeiro. Influência e sugestão de Ed Aristimunho. Os Diários do Ed, Diário do Confinamento até bem pouco tempo atrás, Diários Ocasionais agora, me parecem ser de fato influenciados pelo Diário Selvagem. Mas como o nome demarca, o diário de Oliveira é bem mais selvagem que o de Ed. 

Mas tantos textos e tantas fotos sobre o auge da produção cinematográfica de Godard, me deu (de novo) um saudosismo de um tempo que não vivi. 


18/09/2022.

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