Quem lê tanto?


A notícia já tem mais de um mês, mas ficou na minha cabeça.


A manchete diz que "Com tempo livre na pandemia, autores estreantes lotam editoras de autopublicação". E então vêm os dados. Segundo essa reportagem, muita gente "aproveitou" a pandemia para se autopublicar. A editora A teve sua demanda aumentada de 200 para 350 lançamentos. No caso da editora P, a elevação foi de 250 para 500, sim, dobrou. E a editora C informa que está publicando 1000 obras por mês, sem informar quanto publicava antes da covid-19. 


A canção Alegria, Alegria de Caetano Veloso tem versos que dizem "O sol nas bancas de revista / Me enche de alegria e preguiça / Quem lê tanta notícia". Quando eu ouvia a música, sempre pensava nos raios solares em bancas de revistas mesmo; depois descobri que houve um jornal chamado O Sol, que circulou no final da década de 1960. Mas, enfim, como poderia dizer Caetano, quem lê tanto?


O recentemente falecido escritor (também por causa da peste) Sergio Sant'Anna dizia em tom de blague que o Brasil tinha mais escritores que leitores. A piada não deve estar distante da realidade. 


Temos publicação em profusão, e quase nenhuma curadoria. Ou talvez a curadoria se resuma ao marketing das grandes editoras, que costumam publicar autores consolidados, ou traduções de sucessos de venda nos países de origem. Além disso distribuem suas publicações aos cadernos e seções de cultura dos principais jornais e revistas do país.


Além do excesso de oferta, minha angústia aumenta pelo motivo que eu mesmo gostaria de ser publicado e penso muito sobre isso. Me questiono, publicar por quê? Para quem?


Temos tantos leitores? Quem lê tanto?


27/08/2020. 


"crônica", "livros", "literatura"

Comentários

  1. Isso me lembra um texto que publiquei no meu blog em 2006. E tem um comentário teu lá.

    http://emiliopacheco.blogspot.com/2006/10/livro-ou-no-livro.html

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    1. Meio assustador pensar que a tua reflexão e meu comentário 14 anos.

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