Fernandão - 1978 - 2014


Fernandão - 1978 - 2014



De vez em quando nós tomamos sustos da vida, ou da morte.

Aconteceu comigo neste final de semana, dia 7. Fui acordado com uma gentileza: minha mulher me acordou trazendo o desjejum. Junto com o despertar e o desjejum veio a notícia: “disseram que morreu o Fernandão.”

“Fernandão?” - eu disse. “Mas, eu não conheço nenhum Fernandão, a não ser o ex-jogador do Inter”.

“É. Esse mesmo.” - ela falou.

Mas não podia ser, o Fernandão era um cara mais novo que eu. Fazia pouco tempo que havia deixado de jogar futebol.

Com essa dúvida, fui olhar o que dizia o celular (agora os celulares são “espertofones”, pequenos computadores portáteis). E lá estava a notícia. Fernandão havia morrido em um acidente de helicóptero, no interior de Goiás. Por razões que ainda precisam ser desvendadas o helicóptero caiu, matando seus cinco ocupantes.

Depois ao começar a ouvir o rádio, há a profusão de notícias. Os testemunhos, os depoimentos, o choro, os lamentos. E aí vem o nó na garganta da gente. A própria vontade de chorar. Porque, como costuma acontecer com artistas ou esportistas populares, nós temos esta relação, como se esses esportistas fossem parte do nosso círculo de parentes e amigos, mesmo que a maioria deles não saiba da nossa existência em particular.

Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão, era natural de Goiás, e chegou ao Internacional de Porto Alegre no início do século XXI, depois de ter surgido para o futebol em Goiás, e de uma passagem pelo futebol francês.

Entre outras coisas, fez o gol 1000 em grenais.

Mas o grande papel que ele desempenhou foi o de capitão da equipe, tanto na conquista da Libertadores da América, em 2006, em cima do São Paulo, quanto da conquista do Mundial de Clubes em cima do Barcelona de Ronaldinho “Gaúcho”, no final do mesmo ano.

A conquista da América em cima do São Paulo foi tensa, muito tensa, em jogos aguerridos, tanto no estádio Morumbi, quando no Beira-Rio.

E a conquista do Mundial foi a conquista do impossível. Eu, como muitos colorados, tinha a ideia que vencer o Barcelona era possível, mas muito, muito difícil mesmo. Talvez o Internacional de Porto Alegre tivesse uns 5% de chance diante do poderoso Barcelona.

De quebra, naquele jogo, numa manhã de domingo de dezembro para nós, dia quente em Porto Alegre, dia frio no Japão, no início do segundo tempo, o capitão Fernandão, exausto e lesionado, foi substituído pelo sempre questionado Adriano Gabiru. Era o último desalento para os torcedores colorados. Mas, contrariamente às expectativas, o Inter venceu com um gol de Adriano Gabiru. Tornou a façanha ainda mais difícil de acreditar. Ao final, o Inter ganhou. E Fernandão, capitão daquele time, mesmo sendo substituído durante o jogo, levantou a taça, diante de um incrédulo, desapontado e constrangido time do Barcelona.

Na volta do Japão, a equipe do Internacional desfilou em caminhão do corpo de bombeiros, e Fernandão liderou a multidão de torcedores na comemoração, no estádio Beira-Rio.

Pois é. Fernandão foi o capitão do Internacional de Porto Alegre no momento de maior glória do time.

Depois ele saiu do Inter, para jogar pelo São Paulo, e pelo Goiás.

Voltou ao Inter tempos depois, quando foi gerente de futebol, e técnico, sem conseguir muito sucesso.

Mas será para sempre o capitão da equipe que conquistou a América e o Mundo, acabando com um complexo de inferioridade que oprimia os colorados frente aos rivais locais.

Inacreditável que alguém assim venha a morrer assim, tão jovem, tão cedo…


08/06/2014.

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