27 de julho de 2022



Naquela quarta-feira, 27 de julho de 2022, não houve o encontro da oficina literária. O filho do professor/coordenador estava se formando em engenharia na UFRGS. 

Contudo uma foto de dois alunos publicada em um dos grupos de aplicativo, indicou que estavam no Boteco Apolinário, ao final da tarde. 

Eu tinha uma consulta médica naquele final de tarde, no Menino Deus. Do Menino Deus à Cidade Baixa, é um pulo, de forma que me dirigi ao boteco, após a consulta. 

O novo Apolinário fica na República entre a José do Patrocínio e a João Alfredo. “É José, é João, é Drummond, é paixão”, talvez cantassem Martinho da Vila e João Nogueira, se por ali passassem. 

Quando cheguei estavam por ali o Gian, o Felipe e o Tiago. Rodrigo, o garçom, anotava e trazia os pedidos. 

Fui recebido com comentários de que agora “qualquer um pode entrar nesse bar!”, e um beijo afetuoso do Felipe. Como eu poderia negar que estavam deixando qualquer um entrar, se eu estava ali?

Um deles comentou que o Apolinário agora parecia um Apolinário de sapatênis. Será que ele quis dizer que o antigo Apolinário era raiz, e o novo é nutella? Não sei. Me parece menor. Outro comentário, da mesma pessoa, foi que o teto do novo Apolinário é baixo, ao contrário do local na José do Patrocínio. Talvez esse teto baixo prejudique a acústica para os encontros da oficina literária. Em todo caso, as fotos de antigas oficinas já decoram uma parede no fundo do bar. Veremos como será. 

Sentei, e pedi uma dose de uísque e um chope. Talvez querendo agradar os outros comensais: um bebia uísque e dois bebiam chope. Uma diferença é que pedi uma dose simples de uísque, e meu amigo costuma pedir dose dupla. Mas, tudo bem. 

O chope veio naquele copo bonito e imenso. Não tenho certeza, mas tenho uma forte desconfiança que continua sendo o Barley. Quando olhei o cardápio, vi que a medida informada era de 580ml. Depois de tanto tempo, me dei conta que essa medida é muito semelhante ao pint imperial (se pronuncia algo como “paint”, embora digam que os portugueses aportuguesaram a palavra para pinta). O pint imperial tem 568ml. O pint americano é menor, tem 473ml, ou seja, a medida usada no que chamamos de latões. Sempre latões de cerveja. Adoro ficar rememorando essas medidas. E, veja bem, estamos falando de bar e bebidas. 

Consultei os parceiros de mesa, sobre se já haviam comido algo, porque eu estava com fome. Todos estavam. Então uma breve sucessão de entreveros e polentas fritas passou por aquela mesa. 

No início parecia que ali estava reunido um conselho editorial para o livro que o Tiago deve lançar no último trimestre, o Semvergonho. Há, ou havia, uma polêmica se uma crônica que usa muito aquela palavra mais vulgar para o pênis, deveria entrar no livro ou não. Uma parte advogando que se, não entrasse, o livro teria mais chance de ser usado em escolas. Contudo, se a crônica poderia ser um problema para o ensino primário, para o ensino médio, o problema seria menor. Claro, em tempos de moralismo, como o que estamos vivendo, sempre se pode fazer barulho e campanha contra o livro por causa de uma crônica como essa. Mas, para adultos, é uma crônica bem humorada, anedótica, quase poética. Como somos complicados, caralho! 

Depois de algum tempo, chegou a Carol com sua simpatia e leveza. E depois chegou a Nathália, para completar a mesa. 

Talvez a “polêmica” crônica do Tiago tenha sido o principal assunto da mesa. 

No mais, conversamos. Relembramos outras oficinas, outras turmas, outras pessoas. Falamos bem ou mal, mas falamos de todos, inclusive de nós mesmos, que estávamos ali. Mas já faz parte da sabedoria popular: se você não estiver em uma reunião qualquer de seus amigos, você pode se tornar o assunto. Portanto, melhor estar nesses encontros. 

Na saideira do Apolinário, pedi outra dose. Provavelmente foi um erro. 

Por volta da meia-noite, o Apolinário fechou. Gian, Tiago e Nathália foram embora. 

Fechamos outro bar. 

Felipe, Carol e eu decidimos esticar mais um pouco, até o Pinguim. 

No caminho paramos em uma minúscula tabacaria que ainda estava aberta àquele horário. Carol comprou cigarros. E como não sei fumar, comprei três charutos. Pitei um nos duzentos metros até o novo bar. Perdi o outro. O terceiro voltou para casa comigo. Está sobre a mesa, enquanto escrevo. Quem sabe um dia eu o compartilhe com o Tom. Ou como uma esperança ainda mais vaga, com o Tom e a Renata. 

No Pinguim, veio a sucessão de cervejas. E a vida. E os relacionamentos. E por que eles dão certo ou não. Ou quão importantes são os que amamos, e os que nos amam. 

Consegui tirar fotos saturadas de amarelo. Àquela altura como lembrar em regular balanço de brancos para luz incandescente? Nas fotos, a Carol, advogada, me pareceu uma jornalista de alguma redação dos anos 1990. O Felipe, que é jornalista, ... bom, ele me pareceu alguma espécie de empresário, ou diretor, ou gerente. Mas são só as minhas impressões.

Eu pensei que o terceiro litro de cerveja seria o final, mas me enganei. A saideira viria no quarto litro. Minha memória desvanecia em álcool. A saideira do Apolinário incrementava as saideiras do Pinguim. 

Felipe foi embora, depois de fumar fora do bar. Acho que ele fugiu de mim. 

Pagamos a conta. Chamamos um carro de aplicativo. Carol ficou em seu prédio. E fui levado até àquele em que moro. Ainda consegui avisar a Carol que cheguei bem. O registro da mensagem mostra que ela foi enviada às quatro da madruga.

Tudo termina bem, quando acaba bem. E assim parece que acabou bem.

Na manhã seguinte, acordei atrasado para uma consulta odontológica. Fui a esta consulta em jejum. 

Depois passei horas e horas me recuperando da ressaca, e resgatando os momentos finais, que o uísque, o chope e a cerveja apagaram. E resgatando informações.

Descobri pelo aplicativo de carona paga, que fui que pediu essa carona. E que paguei minha parte da conta no Pinguim com cartão de débito. 

É bom estar com amigos.

E Deus tem misericórdia dos bebuns. Ou, pelo menos, teve de mim.


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29, 31/07/2022.


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