Teve Copa do Mundo em Porto Alegre
Teve
Copa do Mundo em Porto Alegre
E ontem, 30 de junho de 2014, foi o último jogo
de futebol acontecido em Porto Alegre, pela Copa do Mundo que ora se
realiza no Brasil.
Pois é. Teve Copa em Porto Alegre.
E, à medida que mais da metade do evento
esportivo já se foi, pode-se ver que o caos iminente que era
anunciado não se concretizou. Pelo menos até agora.
Os aeroportos e rodoviárias funcionaram. Os
serviços de hospedagem deram conta do recado.
Em Porto Alegre foram anunciadas uma série de
“obras de mobilidade” para dar mais fluidez ao trânsito. Estas
obras incluíam viadutos e passagens subterrâneas (que são mais ou
menos como viadutos), reformas nos corredores de ônibus para
instalação de “linhas rápidas” (o que parece significar ônibus
maiores em menor número para que a linha possa se tornar rápida de
fato), e duplicação de avenidas.
Os viadutos e passagens subterrâneas estavam em
grande parte relacionados à chamada “Terceira Perimetral”, um
conjunto de avenidas que ligam as zonas sul e norte da cidade.
Passagem subterrânea na Avenida Ceará, passagem subterrânea na
Avenida Cristóvão Colombo, passagem subterrânea na Rua Anita
Garibaldi, viaduto na Avenida Bento Gonçalves. Muito se comentou
sobre um viaduto ou uma passagem subterrânea na Avenida Plínio
Brasil Milano, mas esta obra, se realmente estava incluída entre as
tais obras de mobilidade, nem foi iniciada.
Destas obras da Terceira Perimetral, nenhuma foi
concluída. O viaduto da Bento Gonçalves está sendo erguido, e dá
a impressão que possa ser concluído até, talvez, o final deste
ano, ou no início do próximo. As demais, isto é, todas as
passagens subterrâneas, estão interditadas, e as obras parecem
evoluir a passos de cágado.
Ainda na zona norte estava previsto que a Avenida
Severo Dullius fosse estendida até a Rua Dona Alzira, criando um
atalho para ligar os bairros Anchieta e Sarandi.
Não parece que esta obra esteja em execução.
Além destas, havia o viaduto do entorno da
rodoviária, o viaduto Pinheiro Borda, a duplicação da Avenida
Beira-Rio, a duplicação da Avenida Moab Caldas, mais conhecida como
Avenida Tronco, e as reformas dos corredores de ônibus.
O viaduto do entorno da rodoviária ficou pronto.
Na verdade, a impressão é que foi aberto ao trânsito inacabado.
Apesar disso, com sua abertura, o usual congestionamento da Avenida
Júlio de Castilhos foi aliviado. Mas continua um funil no encontro
do trânsito vindo da Avenida Farrapos, através da Rua Conceição,
ou Largo da Rodoviária, e o trânsito de quem chega ao centro da
cidade vindo da Avenida Castelo Branco. Este novo viaduto também
cortou a Avenida Coronel Vicente, dificultando um pouco a ligação
entre a parte baixa e a parte alta do centro de Porto Alegre. O
antigo cruzamento da saída da Júlio com o Largo da Rodoviária
ainda precisa ser reformado, e o canteiro de obras da construtora
desmontado.
O viaduto Pinheiro Borda ficou pronto, melhorando
o trânsito de quem vem da zona sul da cidade para o centro. Bem como
o corredor de ônibus da Avenida Padre Cacique. Dá vontade de dizer:
“Aleluia!” Contudo ainda não há a prometida linha rápida de
ônibus ali.
A Avenida Beira-Rio também foi duplicada, não
sem alguma polêmica, como o corte de uma série de árvores. A
prefeitura informou que novas mudas seriam plantadas como
compensação.
A Avenida Tronco teve obras iniciadas e foi
duplicada em parte, mas a obra parou, ou diminuiu seu ritmo, por
conta de desapropriações e das indenizações a serem pagas aos
moradores que devem ser deslocados.
Os corredores de ônibus que deveriam ser
reformados estão com obras paradas ou quase, parecendo ruínas de um
desmanche. Isso acontece tanto no corredor da Avenida Protásio
Alves, quanto no da Bento Gonçalves-João Pessoa, penalizando o
trânsito ao seu redor, uma vez que os ônibus precisam se misturar
ao tráfego comum, em lugar de usar suas pistas exclusivas.
Como foi dito, o aeroporto e a rodoviária deram
conta do recado para a chegada de turistas.
O aeroporto de Porto Alegre é sujeito a neblinas
no inverno, como é o caso durante a ocorrência da Copa. Por conta
disso, em muitas manhãs é mais ou menos comum que o tráfego aéreo
fique interrompido. Isso poderia ter sido sanado para a Copa do
Mundo, com sistemas de navegação por instrumentos habilitando os
pousos e decolagens mesmo em condições climáticas adversas. Isso
não aconteceu. Aqui se juntaram a incapacidade governamental com o
desinteresse das empresas aéreas em instalar equipamentos nos aviões
e treinar suas tripulações para isso, situação que ocorre em
alguns dias, durante três ou quatro meses no ano.
Nossa rodoviária não teve reformas, mas atendeu
turistas e nativos como tem feito desde que foi inaugurada há mais
de 40 anos.
Os serviços de hospedagem deram conta do recado.
Mas foi possível constatar que o público estrangeiro foi rápido
nas estadias. Assim, a pessoa chega à cidade na véspera do jogo da
seleção de seu país, e vai embora ao final do jogo, ou,
eventualmente no dia seguinte. Pode até gastar na cidade nos dias em
que fica, mas fica pouco.
O taxista e cronista Mauro Castro insinuou em seu
texto publicado ontem no jornal Diário Gaúcho que a Copa havia
trazido mais prejuízo que lucro aos taxistas de Porto Alegre.
Bloqueios de ruas, congestionamentos, e poucos turistas
transportados. Com o infame trocadilho, foram turistas passageiros.
Como diz Castro, os taxistas de Porto Alegre, quase nem tiveram
oportunidade de praticar o inglês oferecido em cursos pela
prefeitura.
Por outro lado, parece que os estabelecimentos
comerciais da Cidade Baixa, na Rua Lima e Silva e arredores, viveu
dias de sucesso. Tanto para no horário de almoço, quanto para as
baladas noturnas. De fato, por ali passaram franceses, holandeses,
australianos, argentinos, e, em menor número, coreanos, argelinos,
hondurenhos, nigerianos e outros.
A segurança durante o evento foi reforçada. Dois
mil policiais foram deslocados do interior do estado, para o
policiamento ostensivo em Porto Alegre. Eu descobri nesta Copa que a
polícia militar do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar, tem um
esquadrilha de helicópteros, pronta para reforçar a vigilância
sobre a cidade. A Polícia Federal escoltava as seleções nacionais
em seus deslocamentos. E a Marinha, junto com a Polícia Federal,
patrulhava o Lago Rio Guaíba, que banha a cidade. A Polícia Civil
deslocou um ônibus que serviu como delegacia móvel para próximo do
estádio. E a Brigada manteve ônibus como centros de informações
em pontos estratégicos da cidade. Em espanhol e inglês, além do
português. Nunca fomos tão cosmopolitas. E nunca estivemos tão
seguros. Nem consigo imaginar que estaremos tão seguros novamente em
futuro próximo.
Não que não tenham ocorrido contratempos. Alguns
roubos, pequenas brigas, mas nada que se possa dizer que foi uma
catástrofe em termos de segurança pública.
É. Os torcedores, os fãs de futebol e festa que
estiveram por aqui coloriram e alegraram a cidade. Foi especialmente
notável a presença dos holandeses, que formou uma massa laranja,
tanto na concentração no Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado
Público, que eles transformaram numa “Orange Square” (“Praça
Laranja”), quanto em sua movimentação até o Estádio Beira-Rio,
através da Avenida Borges de Medeiros. Junto com eles os
australianos, em grande número, e vestidos de verde e amarelo,
coincidentemente, também as cores nacionais do Brasil.
Depois os argentinos transformaram Porto Alegre em
mais uma cidade platina. Vieram em grande número, o jornal Correio
do Povo chegou a estimá-los em 100 mil em Porto Alegre, e se
espalharam pela cidade, ficando em hotéis, pousadas, imóveis
alugados, em casas de conhecidos, acampados em parques, e mesmo
dormindo nos automóveis.
Por fim, vieram os alemães. A Alemanha disputou
oitavas de final contra a Argélia, na última partida da Copa
disputada no Beira-Rio. Vieram os torcedores alemães. Que por aqui
se encontraram com os alemãos e alemoas aqui do Rio Grande do Sul.
Afinal, o Rio Grande do Sul é berço de ampla imigração de origem
alemã, desde os primeiros vindos lá por 1824, para onde hoje é a
cidade de São Leopoldo. Há inúmeras cidades de colonização alemã
por aqui que tem tentado manter as tradições ancestrais, algumas
cujo nome indica a origem, como Novo Hamburgo ou Teutônia, ou
Westfália, cidadezinha que um diário daqui mostrou ontem. Alemães
também invadiram Porto Alegre.
A propósito, foi uma bela sacada apelidar a
Avenida Borges de Medeiros de “Caminho do Gol”. Uma avenida que
liga o centro da cidade ao estádio, só poderia mesmo receber este
apelido. Sinalizada com placas e bandeiras, nos dias de jogos recebia
espécies de portais coloridos indicando o caminho. Caminho do gol.
E tivemos partidas espetaculares: França 3,
Honduras zero; Holanda 3, Austrália 2; Argélia 4, Coreia do Sul 2;
Argentina 3, Nigéria 2. Média de quase cinco gols por partida na
fase de grupos. Mais Alemanha 2, Argélia 1, nas oitavas, em uma
partida de 120 minutos. Não houve falta de gols, nem de emoção nos
jogos realizados em Porto Alegre.
Passou uma Copa do Mundo de Futebol por aqui. Pena
que, para nós, acabou.
01/07/2014.
Oi, Zé Alfredo!
ResponderExcluirAqui na cidade onde moro, argentinos colocaram fogo em quiosques. O que acho mais estranho é que aqui é o maior reduto deles no Brasil, sendo considerado o lugar no mundo por metro quadrado que mais tem Argentinos fora da Argentina. Um pode ter sido o estraga prazeres de muitos. Eram quiosques novinhos. Soube que em outras cidades, como Belo Horizonte, também teve arruaça de Argentinos... Só eles!
Projetar o caos é normal em grandes eventos. Ainda bem que não aconteceu!
:)
Beijus,