As Efemérides de 2011 e “Achtung Baby”
As
Efemérides de 2011 e “Achtung Baby”
Neste 2011, aqui em Porto Alegre há a comemoração dos 50 anos da Campanha da Legalidade, quando o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, liderou uma campanha pela posso do vice-presidente João Goulart, em lugar de Jânio Quadros que havia renunciado.
Agora em setembro se completará o primeiro decênio dos ataques contra os Estados Unidos – dez anos do “11 de setembro” como ficou lembrado aquele dia de 2001. Fazia mais de um século que os Estados Unidos não eram atacados em seu território continental. 11 de setembro também foi o dia, em 1973, em que um sangrento golpe de militar derrubou o governo constitucional de Salvador Allende, pondo fim a 50 anos de uma democracia de relativo sucesso, e a tentativa de um socialismo democrático do governo da Unidade Popular, no Chile. Serão 40 anos em 2013.
Dito tudo isso eu gostaria mesmo de lembrar é que em 2011 também se completam 20 anos do lançamento do álbum “Achtung Baby”, da banda irlandesa U2.
Para quem acompanhou a carreira do U2, o disco pareceu muito estranho.
“The Joshua Tree”, o disco anterior, de 1987, havia sido um grande sucesso, e, de alguma maneira, parecia coroar a carreira do grupo. Milhões de discos vendidos, uma longa turnê, e em seguida um filme, obviamente com uma trilha sonora, “Rattle and Hum”. Como coroação da carreira do U2, “The Joshua Tree” é um pouco mais do mesmo do grupo. Rocks melódicos, baladas e letras socialmente engajadas.
“Achtung Baby” parecia bem diferente do U2 até então.
A começar pela capa. Ao mesmo tempo uma colagem e um caleidoscópio. E que tal aquela foto do Bono com maquiagem carregada? Nada contra maquiagens carregadas em sim, mas eu não estava muito acostumado, ou nunca tinha prestado muita atenção a esse tipo de manifestação por parte de Bono.
E a sonoridade? Tanto em “Zoo Station”, a música que abre o disco, quanto em “Even Better than the Real Thing” tinham uma batida que minha esposa então chamava de “batida de lata”.
Pop demais para ser do U2, debochado demais para ser do U2.
É certo que naquele tempo vivíamos dias que pareciam muito estranhos.
Em meados de 1989 o governo da então comunista Hungria declarou que abriria suas fronteiras com a Áustria, e qualquer pessoa que quisesse ir ao país alpino não seria impedida. Até então os países do lesta da Europa viviam sob regimes chamados comunistas. Polônia, Tchecoslováquia. Hungria, Romênia, Iugoslávia, Bulgária, Albânia, e, claro, União Soviética eram todos países comunistas, e quem vivia naquela época, eu inclusive, achava que os regimes comunistas iriam durar para sempre, ou, ao menos, muito tempo. A Alemanha estava dividida. Cerca de dois terços do território atual a oeste era capitalista, o terço restante a leste era comunista. A cidade de Berlim ficava em plena Alemanha Oriental comunista, mas também estava dividida; um muro dividia a cidade, e os cidadãos da Alemanha Oriental eram impedidos de ir para sua contraparte do oeste.
Mas alemães são alemães, e um cidadão da Alemanha Oriental que conseguisse chegar à Ocidental receberia cidadania. O problema era que até 1989 poucos conseguiam fazer isso.
Cidadãos dos países comunistas eram impedidos de viajar para os países capitalistas da Europa Ocidental, mas tinham relativa liberdade para viajar entre os países comunistas.
Mas a abertura da fronteira entre a Hungria comunista e a Áustria capitalista foi como a explosão de uma represa para a Alemanha Oriental. Os alemães afluíam às centenas para a Hungria, passando pela Tchecoslováquia, atravessando a fronteira com a Áustria, e então se dirigindo ao norte para a Alemanha Ocidental.
Com tanta gente saindo da Alemanha Oriental, o próprio governo comunista capitulou e tomou a iniciativa de derrubar o muro que separava Berlim, e abrir as fronteiras com a parte ocidental da Alemanha.
A partir de 1989 os governos comunistas da Europa Oriental foram caindo como peças de uma fileira de dominós, e um fracassado golpe de estado na União Soviética em 1991 foi a pá de cal naquele tipo de governo.
Quando o disco “Achtung Baby” saiu quase no final de 1991, o Muro de Berlim era história, e o comunismo tinha virado pó. Mas não a perplexidade por tudo ter mudado tão rápido.
E talvez por isso o disco se assemelhe um pouco a uma narrativa de viagem. O livreto que acompanha o disco é pleno de fotos, como uma exploração. Com várias fotos da Alemanha. Uma destas fotos é muito icônica. Mostra um sedã Mercedes, automóvel símbolo da pujança da Alemanha, ao lado de um Trabant, um carrinho apertado, com um poluente motor de dois tempos, que era o modelo disponível para as pessoas da Alemanha Oriental adquirirem.
O disco foi parcialmente gravado em Berlim e a primeira faixa, como já foi dito, se chama “Zoo Station”, referência à própria, a Zoo Station de Berlim, a estação do metrô de Berlim que, como o nome indica, é ligada ao zoológico.
Músicas que eu destacaria no disco? As já citadas “Zoo Station” e “Even Better than the Real Thing”. Destacaria também “Until the End of the World”, que também é parte da trilha sonora de um belo e longo filme de Wim Wenders que tem este mesmo nome. E tem também a balada romântica, talvez um pouco já gasta, “One”.
Certa influência alemã ainda seria sentida no disco seguinte do grupo irlandês, “Zooropa”, que sairia em 1993.
É isso. Em 2011 “Achtung Baby” completa 20 anos. Acho que é um feliz aniversário.
24/08/2011, 30/09/2011.
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