Leituras na Piauí - novembro de 2012 - A Transição, por Robert A. Caro


Leituras na Piauí - novembro de 2012 - A Transição, por Robert A. Caro

“A Transição” foi o texto que mais me marcou na edição de novembro de 2012 da revista Piauí. Escrito por Robert A. Caro, narra, como o título denuncia, a transferência de poder de John F. Kennedy, para Lyndon B. Johnson, após o atentado em novembro de 1963.

O texto é, na verdade, um excerto da longa biografia que Caro está escrevendo sobre o presidente Johnson. Quatro volumes já vieram à luz, e um quinto ainda deverá ser publicado. Uma obra monumental assim, teria, talvez, pouco interesse para qualquer pessoa que não fosse um cidadão dos Estados Unidos, muito interessado em História.

Lyndon Johnson foi um presidente ambíguo, em grandes coisas. Ele reafirmou seu compromisso com os direitos civis dos negros no sul dos Estados Unidos (compromisso este que Kennedy já havia abraçado), colocando a Guarda Nacional a escoltar estudantes negros para lhes garantir o acesso ás universidades, antes reservadas aos brancos, e o FBI a investigar crimes contra ativistas de direitos. Também implementou os grandes programas de seguridade social do Medicare e do Medicaid. Por outro lado, escalou a presença de tropas dos Estados Unidos no Vietnã, e, com relação ao Brasil, apoiou amplamente os golpistas em 1964.

Contudo a questão do interesse restrito que poderia haver para uma biografia de Johnson, entre nós, brasileiros, se esvai, com quem esteja disposto a ler a narrativa de Robert Caro.

É uma narrativa extremamente vívida, rica em detalhes.

Começa com o mau momento que Johnson vivia como vice-presidente de John Kennedy. Basicamente o cargo era uma figuração, e Johnson aparentemente se sentia bastante desprestigiado com ele. Ele já havia sido senador, e como senador fora um homem poderoso. Como vice-presidente ele se sentia bem menos poderoso. Caro informa que na manhã de 22 de novembro de 1963 em que Kennedy seria baleado, jornais informavam que inclusive Kennedy poderia escolher um outro candidato para vice, no momento de concorrer à reeleição.
De quebra, uma Comissão do Senado tinha audiência para investigar possíveis problemas de corrupção com um protegido de Johnson no governo. E a revista Life investigava esse mesmo caso.

Nos Estados Unidos de 1963, antes que o Governo Kennedy-Johnson garantisse direitos aos negros no sul do país, o governador do Texas era democrata, e um senador importante do estado também era democrata. O que pareceu bem estranho para mim, pois desde que presto um pouco mais de atentção à política dos Estados Unidos, digamos de uns quinze para cá, parece que o governador de lá, Texas, sempre é republicano, apenas trocando o nome do eleito, como foi o caso do ex-presidente George W. Bush. Mas que faz sentido. Antes dos direitos civis, o presidente que havia garantido o fim da escravidão nos estados do sul era um republicano.

Mas tudo mudaria com o atentado de 22 de novembro.

Caro quase nos conduz no carro que levava o então vice-presidente. O veículo seguia mais para trás no cortejo. Quando são informados do tiroteio, com o atentado contra Kennedy, o guarda-costas lança Johnson para o chão do carro, e manda o motorista acelerar.

Os ferimentos em Kennedy foram graves, e logo o presidente expiraria.

É então que Johnson vai passando por uma transformação.

O homem que se via em final de carreira, de repente é alçado ao papel principal. A presidente da nação mais poderosa do ocidente.

É realmente uma transformação. Ele logo está mandando, e procurando meios para se legitimar como o novo presidente dos Estados Unidos. Quando o Serviço Secreto manifestou a necessidade dele voltar para Washington, Johnson disse que não iria sem a viúva de Kennedy, Jacqueline. Jacqueline não voltaria para Washington sem o corpo de John. O Serviço Secreto informou que ela poderia ir em outro avião depois, mas Johnson insistiu para que esperassem. E assim foi. Também entrou em contato com o secretário de justiça de Kennedy, que era ninguém menos que o irmão dele, Robert Kennedy. Além disso, ele mandou chamar uma juíza federal de uma corte local do Texas para lhe tomar o juramento e empossá-lo oficialmente como presidente dos Estados Unidos.

Com isso, a investigação de corrupção contra um indicado dele no Congresso, bem como a reportagem da Life resultaram em nada.

Johnson era o novo presidente da nação que acabava de sofrer mais um trauma com o atentado e o assassinato do presidente.

É possível conferir que lá como cá há a pequena política, como essa investigação de corrupção no Congresso. E a exploração disso por parte da imprensa.

É possível ver esta questão das formalidades legais da república dos Estados Unidos da América, com um presidente jurando à constituição perante um juiz local.

Enfim, uma narrativa vívida, uma boa história. Se fossem convertidas em um roteiro de cinema, as mais de dez páginas publicadas na revista Piauí, dariam um filme bem razoável, ou, pelo menos, um rico documentário de como foi a transição de poder de Kennedy para Johnson em 22 de novembro de 1963. O texto de Caro é capaz de prender a atenção de bem mais que um cidadão dos Estados Unidos que goste bastante de História.


08/02/2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!