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Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A...

Mapas

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Porto Alegre, 26 de maio de 2025. Caro Rubem, Esta carta bem poderia tratar de etimologias. Assim, mapa viria do latim mappa, que significaria basicamente pano. No Império Romano, os mapas eram produzidos sobre tecido. O alemão antigo teria incorporado mappa, transformando-a em mappe, onde assumiu o significado atual, derivando então, com variações fonéticas, para outros idiomas, inclusive o nosso. Foi uma IA que informou isso. Não sei se é verdadeiro, mas é verossímil. Esta carta poderia lembrar também de uma oficina literária de que participei há uns poucos anos. Naquela oficina eu e os outros oficineiros tínhamos que escrever crônicas a partir de manchetes de jornal tal qual o saudoso Moacyr Scliar fez por uns tantos anos. A manchete foi publicada no jornal Folha de São Paulo e diz “IBGE lança mapa-múndi de ponta-cabeça e com Brasil no centro”.  Quando um emissor diz que o tal mapa está de ponta-cabeça, já nos informa seu ponto de vista. Ele está com a cabeça extremamente nortea...

Lô Borges (1952-2025)

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No início da década de 1980 entrei em contato com a obra de Milton Nascimento através de amigos. Naquela época, entre esses amigos, estava muito em voga o LP Sentinela. Também naquela época comecei a trabalhar e com a grana dos primeiros salários adquiri o álbum Clube da Esquina 2, então em formato de fita cassete, em um balaio de ofertas da Renner da Otávio Rocha. Foi um álbum de “uau!”. E Clube da Esquina não era só Milton Nascimento. Era Milton Nascimento, era Milton e mais uma turma a qual não prestei muita atenção, mas que estava lá. Ouvi muito aqueles cassetes, que não sei que fim levaram. Lembro muito de Canoa, Canoa, primeira canção do lado B do primeiro cassete.  Depois, não sei quanto tempo depois, adquiri o álbum Clube da Esquina, que, como a nomenclatura indica, precede Clube da Esquina 2. Foi outro “uau!”. E Clube da Esquina não era só Milton Nascimento. Era Milton Nascimento e Lô Borges e Beto Guedes e outros, sem contar o grande Fernando Brant, que usualmente compunh...

Diário – leituras – Prelúdio de Sangue

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Tudo começou em um balaio de ofertas na Feira do Livro de Porto Alegre de 2024. Não lembro de qual livraria. Certamente um sebo. Vi nesse balaio alguns volumes dessa saga, que conta de maneira romantizada, as vidas e as cortes da casa real inglesa, os Plantagenetas, a partir de meados do século XII, na chamada Baixa Idade Média.  Contudo o livro se inicia com Eleonore de Aquitânia. A Aquitânia era um ducado que ficava no sudoeste de onde atualmente é a França. E o livro vai terminar com o rei Henrique II, da Inglaterra, o primeiro rei Plantageneta.  O livro, de fato, essa série de livros, é baseada em fatos históricos acontecidos há quase novecentos anos. Mas acho que não devemos tomar o que é narrado ali como História, pois, afinal é vendido como ficção, romantização.  Pensando em termos técnicos de literatura, o narrador, ou a narradora, é onisciente. Quem conta a história sabe o que acontece dentro da cabeça das personagens.  A autora usa muito diálogos para conta...

Sem lugar tranquilo

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José chegou ao bar desacorçoado.  Quando ele chegou,  eu e Marcos já estávamos ali.  Ele havia nos enviado mensagem informando a questão. Seu carro foi arrombado enquanto ele precisou ir na farmácia. Muitos remédios, farmácia cheia, talvez 45 minutos lá.  “É, João. Uns 45 minutos foi o suficiente para algum vagabundo quebrar um vidro, abrir a porta, invadir o carro, roubar o estepe e ir embora. Em uma travessa da Protásio, no bairro Santa Cecília. Área nobre e residencial. Início de noite de primavera. Até então era um início de noite agradável.” “Sim, sei. Já aconteceu comigo. Já te falei daquela vez que roubaram dois pneus do meu carro e o deixaram apoiado em tijolos, né?” Marcos olhou para um e para o outro de nós e retornou sua atenção para o celular.  “É, João. Sim, tu contou. Também não foi a primeira vez que aconteceu comigo. Já tinham roubado um estepe meu lá perto de casa. Mas é uma região mais afastada. E era tarde da noite. Outra vez invadiram uma vel...

Diário – show – Guto Leite, O Escafandrista: Poesia e Canção

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No dia 14 de outubro de 2025, uma terça-feira, eu estive no Teatro Túlio Piva, ali na Rua da República, na Cidade Baixa, aqui em Porto Alegre, para assistir o show O Escafandrista: Poesia e Canção, de Guto Leite.  O espetáculo consistiu em Guto cantar canções de sua autoria, entreameado pela declamação de poesias, também de sua autoria. A notável exceção de obra de outro compositor no repertório foi a música Futuros Amantes, de Chico Buarque. Futuros Amantes, que em sua letra fala em escafandristas. Muito afim com a temática do show. Sim era um show temático, e o título dá uma dica do tema.  Thomás Werner acompanhou Guto Leite com guitarras, violões e dispositivos eletrônicos com repetições e ritmo.  Foi um bom show, de artistas talentosos. Bem estruturado. Diria que serviria a produzir um álbum, com a exata ordem de canções e poemas apresentados. Se é que isso já não está disponível nos serviços de áudio sob demanda, ou como se diz em bom português brasileiro, streamings...

Outubro antigamente era assim

Antigamente outubro era assim. Antigamente era nos anos 1990.  Começava com o aniversário do Lucas, o filho de um casal de amigos nossos, no dia 5.  Dia 11 era o aniversário do Emanuel, meu filho. Que por uma bela coincidência nasceu no mesmo dia que o bisavô dele. Com 94 anos de diferença entre eles. Emanuel só sabe de seu bisavô por vagas memórias e umas poucas fotos.  Depois, dia 16, era o aniversário da minha cunhada Siloni. Melhor que chamar cunhada é o termo em inglês, sister-in-law, isto é, irmã na lei.  Dia 17 era o aniversário da Sula, a mãe do Lucas.  E dia 20 era o aniversário da Lúcia, a minha irmã. De sangue. Em grande parte também uma espécie de mãe.  Eu sempre pensei essa profusão de aniversários em outubro como um determinismo biológico. Esses primatas gerando suas crias para nascerem na primavera.  Também não descarto que haja uma confluência astral para que haja um monte de gente nascida sob o signo de libra.  Quando comentei ess...

Diário – leituras – Embarque imediato

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Tenho o costume de ler um livro e, depois, comentar sobre a leitura, fazer um registro. Também tenho o costume de demorar algum tempo entre o final da leitura e escrever o registro. No caso deste livro é ainda um pouco mais complicado.  Este livro, Embarque imediato, é uma coletânea de seis relatos de viagem, feitos pelos autores, após participarem de uma oficina literária para criar relatos de viagem. A oficina foi organizada por Zizo Asnis. As autoras e autores são Cris Ribeiro Marques, Isabella Guerra, Lígia Rosso, Marcel Souza, Sônia Friedrich Maus e Wesley Faraó Klimpel.  Adquiri o livro do meu colega de inúmeras oficinas literárias de crônicas, e amigo, Marcel Souza. E isso foi lá por fins de 2022. Logo que comprei o livro, li o relato que ele escreveu sobre suas andanças pela Rússia durante a Copa do Mundo de Futebol de 2018.  Depois o livro ficou encostado na pilha de livros a serem lidos.  Acho que resolvi retomar a leitura e ler os outros relatos, impulsion...