Cara Maria – IV


Cara Maria,


Volto a te escrever. Provavelmente continuarei fazendo isso até que deixe de fazer.

Leio no jornal  que os militares gaboneses, depois de nomearem um general como presidente, nomearam um antigo líder da oposição como primeiro-ministro transitório do novo regime. Podemos olhar o copo meio cheio, no caso a nomeação de um líder da oposição para chefiar a administração do país em um suposto regime de transição; ou olhar o copo meio vazio, o novo primeiro-ministro, recente oposicionista, já foi parte dos quadros do regime deposto, e os militares não estipularam um cronograma para a transição e novas eleições. Como diria o Ricardo Kotscho, vida que segue. 

O noticiário internacional na Folha de São Paulo deste domingo, 10 de setembro, também dá ampla cobertura aos 50 anos do golpe de estado contra Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Comenta sobre o ressurgimento da ultradireita no Chile (que, pelo jeito, como o Brasil, é uma sociedade cindida), e sobre as participações dos Estados Unidos e do Brasil de Médici na articulação do golpe e sustentação do governo golpista de Pinochet. 

Ainda nenhuma palavra sobre os 22 anos do ataque ao World Trade Center. Bem, talvez saia alguma coisa amanhã. Ou haverá grandes textos em 2026, nos 25 anos desse ataque. 

Na mensagem anterior, terminei dizendo "a meteorologia prevê uma semana instável. Acho que o frio já não mais nos assustará."

O frio realmente não assustou. Já a meteorologia assustou. Talvez não ela propriamente dita, mas as consequências da tal semana instável. 

Na terça-feira pela manhã fui surpreendido pela notícia que a prefeitura de Roca Sales advertiu moradores para subirem aos telhados de suas casas por conta da enchente. Como assim? Entrei em contato com um colega, cuja mãe mora em Roca Sales. Ele me informou que a mãe foi resgatada. Naquela manhã ainda estava na caçamba de uma caminhonete esperando providências. 

Na terça à tarde circularam nos aplicativos de mensagens as imagens de uma cidade inundada, imagino que fosse Lajeado, e de estradas interditadas por conta de ameaça de desmoronamento de pontes.

Depois a notícia sobre a cidade de Muçum ter tido três quartos de seu território urbano alagado. 

Na quarta-feira o telejornal do final da tarde mostrava áreas arrasadas da cidade de Roca Sales. Como se por ali tivesse passado um tsunami, mesmo que a cidade esteja a dezenas de quilômetros do mar. Lembrei das imagens de Fukushima lá se vão doze anos. 

Como assim? Como o Rio Taquari gerou esse volume de água em dois dias? 

Maria, estou perplexo! 

Será isso a crise climática? Além das constantes estiagens no verão, passaremos a ter tempestades de transbordar rios no inverno? 

Teremos essas versões de catástrofes, como os incêndios florestais na América do Norte e sul da Europa? Ou as até recentemente incomuns inundações na Alemanha e nos Países Baixos? 

Não sei. Difícil dizer qualquer coisa. A inundações nos vales do Taquari e do Caí me foram por demais chocantes. 

Houve ainda um terremoto no Marrocos. Muitas vítimas. Mas esse evento não deve ter a ver com a crise do clima. Eu espero. 

A meteorologia prevê outra semana de tempo instável. Setembro deverá ser chuvoso. 

Faltam poucos dias para a primavera. 

Em Porto Alegre muitas árvores permanecem floridas. Os passarinhos continuam cantando nas madrugadas de luzes artificiais e com a luz da alvorada. 

P.S. Uma dúvida me ocorreu enquanto falava sobre Roca Sales. Se a cidade é uma homenagem ao antigo presidente Argentino Julio Roca e ao brasileiro Campos Salles, por que a cidade não se chama Roca Salles? Bem, um pesquisa rápida informa que a grafia do nome do antigo presidente brasileiro foi atualizada (!), embora isso não seja muito comum. Um PS para aliviar. PS – "post-scriptum" (ou algo assim, sou ruim de latim[rimou!]), não pronto-socorro. 


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10, 12/09/2023.

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